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quarta-feira

20 abril 2022

01:00:43
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Sob discurso de 'ordem e punitivismo', militares no Brasil serão força nas eleições, diz analista

Com forte presença no governo federal, os militares devem continuar no centro do debate político em meio às eleições presidenciais de 2022. A Sputnik Brasil ouviu uma cientista política para debater o assunto, que ressaltou que mesmo com escândalos, os militares continuam tendo apelo no eleitorado brasileiro.

Nesta terça-feira (19), o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), ganhou as manchetes devido ao seu discurso de comemoração do Dia do Exército, no qual enalteceu o papel dos militares na história brasileira. Da mesma forma, o vice-presidente, Hamilton Mourão, voltou a chamar o golpe de 1964, que instaurou a Ditadura Militar, de "revolução democrática".
Essas são amostras recentes da notória relação de proximidade do Planalto com os militares, que ocupam milhares de cargos no governo federal. Com a proximidade das eleições presidenciais, o papel dos militares no governo deve continuar em evidência.
Recentemente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas de intenção de voto para o pleito deste ano, afirmou que cogita retirar oito mil militares de cargos comissionados do governo federal, caso vença as eleições.

O crescimento da presença dos militares na política brasileira chama a atenção. A cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta que, nas eleições de 2020, houve um aumento expressivo do número de militares da ativa e da reserva como candidatos, em comparação com o processo eleitoral de 2016. Para ela, isso está relacionado com a intensificação de um discurso de ordem e punitivismo que continua forte entre os eleitores brasileiros.
"Essa mesma conformação permanece intacta. A gente teve no governo [do presidente Jair] Bolsonaro alguns desgastes, mas acredito que esse tenha sido o flanco menos desgastado", avalia a cientista política em entrevista à Sputnik Brasil.

Para a pesquisadora da UFRJ, alguns escândalos envolvendo militares, como o recente caso de compra de Viagra e, anteriormente, da hidroxicloroquina, não reduziram a credibilidade desse setor entre a parcela mais conservadora da população. "Eles [os militares] continuam sendo vistos como bastiões da ordem", afirma.

Goulart salienta que o governo Bolsonaro mantém nos militares um braço importante de sustentação política intrinsicamente relacionado à sua imagem. A pesquisadora recorda que a trajetória legislativa de Bolsonaro é marcada por uma atuação "quase como um sindicalista dos militares".
Autora de tese de doutorado sobre a democracia na Venezuela, Goulart traça um paralelo entre esse país e o Brasil no campo da atuação de militares na política. Segundo ela, um dos fatores que garantem a postura pró-governo dos militares venezuelanos são os benefícios obtidos nessa atuação. Para ela, isso também está presente no Brasil.
"No caso do bolsonarismo, há, além dessa questão pecuniária — eles lucram muito, seja porque estão aparelhando o governo ou porque conseguem angariar cargos e mais verbas para o Ministério da Defesa —, há uma confluência ideológica nesse discurso conservador do Bolsonaro", conclui.

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