Sob o título apócrifo "Putin diz que pode paralisar fornecimento de fertilizantes para o Brasil caso Lula seja eleito", a notícia falsa teria sido supostamente publicada no site G1, que desmentiu a trapaça na última sexta-feira (14).
A verdade é que Putin não tentou interferir nas eleições presidenciais do Brasil.
A Rússia adota uma postura de neutralidade em relação à disputa democrática brasileira, atualmente polarizada em torno do ex-presidente Lula e do atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro. Moscou, de fato, tem e pretende manter uma boa relação com qualquer presidenciável que for governar o Brasil a partir de 2023.
Ambos os candidatos, por sua vez, sempre valorizaram a relação com a Rússia e devem manter — e talvez fortalecer — os elos com o Kremlin.
"A Rússia respeita qualquer escolha do povo brasileiro, mas as relações dependem dos interesses dos países. Eu diria que os dois candidatos tiveram boas relações com a Rússia e com o presidente russo. Durante o governo de Lula, tivemos a parceria estratégica, o BRICS [grupo que agrega os dois países, Índia, China e África do Sul]. Depois da entrada de Bolsonaro, ao contrário do que muitos especialistas acharam, nós conseguimos manter relações muito construtivas", comentou o senador russo Andrei Klimov, vice-presidente do Comitê de Relações Exteriores do Conselho da Federação da Rússia (câmara alta do Parlamento russo), em entrevista coletiva cedida a jornalistas brasileiros no mês de agosto.
De fato, a Rússia sempre teve uma boa relação com todos os governos brasileiros, afirma à Sputnik Brasil Rodrigo Ianhez, historiador brasileiro radicado em Moscou.
Ele explica que, desde o governo Lula, há um aprofundamento dos laços da Rússia com o Brasil, que não foi interrompido.
"Nem mesmo diante do impeachment da [ex-presidente] Dilma [Rousseff] houve essa interrupção. No governo do ex-presidente [Michel] Temer, a relação permaneceu bastante boa. Era uma relação boa, mas também não era uma relação muito profunda. Há trocas comerciais: no passado, o Brasil vendia mais carne, mais produtos agrícolas à Rússia. Hoje, em alguns mercados, a Rússia até concorre com o Brasil, por exemplo na Ásia Central. Mas, de toda forma, é uma relação bastante boa dentro das possibilidades e dos limites geopolíticos de cada um", avaliou.
Lula vs. Bolsonaro: um balanço das gestões em relação à Rússia
Para Angelo Segrillo, professor de história da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), o governo Lula tem o mérito de ter aprofundado as relações com a Rússia.
Ele nota que o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) estabeleceu as bases para um possível desenvolvimento futuro dessas relações, a partir da criação das câmaras de cooperação bilateral.
"No governo Lula, houve um aprofundamento através do uso desses instrumentos básicos e também do aprofundamento pela atuação mais contundente do governo Lula no BRICS. O BRICS impulsionou muito essa relação", apontou Segrillo.
Ele lembra que, inclusive, houve a formação de uma aliança estratégica entre Rússia e Brasil no governo Lula.
"Houve diversas atividades, inclusive os acordos para que um astronauta brasileiro [Marcos Pontes, aliado de Bolsonaro e eleito senador no 1º turno] fosse ao Espaço, acordos na área militar e em várias indústrias estratégicas. No comércio, se estabeleceu uma meta de se chegar a US$ 10 bilhões (que, na verdade, nunca foi atingida devido a diversas crises). Mas, no governo Lula, foi uma das épocas em que houve a tentativa de, realmente, se chegar a esse ideal. E, realmente, o comércio bilateral se posicionou muito no governo Lula."
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