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domingo

4 dezembro 2022

19:28:47
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Boeing assedia engenheiros brasileiros e coloca em risco setor aeroespacial nacional, diz analista

Contratação predatória de engenheiros brasileiros pela Boeing vai parar na justiça, após Embraer e demais empresas do setor aeroespacial perderem seus principais quadros. Estratégica da norte-americana pode colocar em risco anos de investimento público nesse setor-chave para a soberania brasileira.

Associações brasileiras do setor aeroespacial entraram com ação contra a empresa norte-americana Boeing por esta realizar contratação predatória de engenheiros brasileiros, na 3ª Vara Federal de São José dos Campos.

A partir de seu escritório no Brasil, a Boeing está oferecendo salários superiores aos de suas contrapartes brasileiras, e já contratou 200 engenheiros aeroespaciais sêniores de empresas nacionais do setor, em especial da Embraer.

"Há um questionamento muito forte por parte de algumas entidades, uma vez que vemos um desvio ético significativo por parte da Boeing ao assediar, literalmente, esses engenheiros brasileiros", disse o economista e coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, à Sputnik Brasil.

O comportamento da empresa norte-americana é ainda mais questionável, se considerarmos que ela teve acesso a informações sensíveis da Embraer, durante o processo de negociação para a formação de uma joint venture entre 2018 e 2020.

"A Boeing teve acesso a um volume de informações extremamente alto sobre a Embraer", disse o Dr. Oswaldo B. Loureda, fundador da Acrux Aerospace e professor de engenharia aeroespacial da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), à Sputnik Brasil. "Um volume de informações que, em uma situação natural, nunca seriam dados para uma empresa concorrente."

Segundo ele, a Embraer saiu prejudicada do processo de negociação com a Boeing, uma vez que "praticamente reestruturou a empresa", investiu capital e tempo para concretizar o negócio. Alguns dias antes de fechar o acordo e pagar os US$ 4,2 bilhões (cerca de R$ 21 bilhões) acordados à Embraer, a Boeing se retirou da mesa de negociações.

Após obter informações privilegiadas sobre a Embraer e se retirar unilateralmente de um acordo praticamente firmado, a Boeing se instalou em São José dos Campos para contratar os engenheiros brasileiros, se utilizando da vantagem de operar em dólar.

"O interesse da Boeing é ter acesso a uma mão de obra altamente qualificada, numa condição de mercado que ela tem muito favorecida, que é fazer os pagamentos em dólar num momento em que o dólar está muito valorizado em relação ao real", explicou Balistiero. "Então, mesmo pagando salários abaixo do recebido pelos engenheiros da Boeing na sua sede, ela consegue atrair engenheiros brasileiros."

Loureda concorda, e nota que a mão de obra brasileira "trará uma economia considerável na folha de pagamentos" da Boeing.

"Nesse sentido, os pesquisadores, profissionais da área aeroespacial no Brasil têm uma formação muito boa. Tão boa ou até melhor do que a americana e [...] são relativamente baratos para uma empresa como a Boeing", disse Loureda.

Um dos objetivos da joint-venture entre Boeing e Embraer era justamente garantir o acesso à mão de obra brasileira, em um contexto no qual a parte norte-americana tem crescente dificuldade para contratar engenheiros aeroespaciais.

"Aparentemente os jovens americanos têm tido interesse cada vez menor pela engenharia e optado pela área de gestão e mercados financeiros. É uma tendência e uma preocupação para os americanos", relatou Loureda.

Neste ano, a Boeing ainda fechou o seu escritório na Rússia, gerando dificuldades ainda maiores para recrutar profissionais.


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