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sábado

23 dezembro 2017

20:21:14
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A Ética Sexual na Visão do Islã e no mundo Ocidental

Para os muçulmanos, a instituição do matrimônio está baseada na reciprocidade do interesse e da cordialidade natural entre os esposos; representa uma manifestação sublime da vontade e do Desígnio Divino.

       Para os muçulmanos, a instituição do matrimônio está baseada na reciprocidade do interesse e da cordialidade natural entre os esposos; representa uma manifestação sublime da vontade e do Desígnio Divino. Isto é demonstrável pelo seguinte versículo Coranico:

       “E, dentre seus sinais, está que Ele criou, para vós, mulheres, de vós mesmos, para vos tranqüilizardes junto a ela, e introduziu entre vós a feição e a misericórdia. Por certo, há nisso sinais para aqueles que refletem”. (Alcorão Sagrado, Surata “Os Bizantinos”, 30:21).

       Segundo a tradição Islâmica (Sunna), consideramos o matrimônio uma necessidade essencial, sendo o celibato visto como um estado perverso, ou seja, alheio à natureza humana.

       A idéia islâmica, no que concerne ao matrimônio e aos hábitos dele decorrentes, difere do que se conhece com respeito a outras religiões. É bastante surpreendente ver certos moralistas tradicionais abordarem a sexualidade como algo fundamentalmente ruim. Consideram a relação sexual, inclusive com o cônjuge legítimo, impura, mal, indesejável, destrutiva, como se esta fosse uma característica de seres culpáveis e desacreditados.

       Mais surpreendente ainda é a concepção generalizada mantida pelo Ocidente, segundo a qual, tradicionalmente, debita-se uma conotação negativa a qualquer coisa pertencente ao domínio da sexualidade. Bertrand Russel, o célebre filósofo ocidental, não constitui uma exceção a esse respeito. Em sua obra “Matrimonio e Ética”, refere-se ao fato nestes termos:

“-Elementos anti-sexuais, por outro lado, coexistiram com outros desde tempos distantes. O Cristianismo e o Budismo prevaleceriam, obtendo no final uma vitória completa sobre seus oponentes”.

Westemarck cita numerosos exemplos do que ele chama “a curiosa nação segundo a qual há algo de impuro e de culpável no matrimônio, como nas relações sexuais em geral.”

       Em diferentes partes do mundo, completamente à parte de toda influencia Cristã ou Budista, há ordens de padres e monjas consagrados ao celibato. Entre os judeus, a seita dos Ashkinazis considerava toda a relação sexual como impura. Essa concepção parece ter ganhado terreno na antiguidade... E assim criou-se um movimento popular de mortificação.

Houve, por exemplo, durante o Império Romano, uma tendência generalizada pelo ascetismo. O epicurismo havia quase sido extinto e o ceticismo tomara lugar entre os gregos e os romanos cultos... Os neo-platônicos foram quase tão ascéticas como os cristãos. Da Pérsia, a doutrinas segundo a qual a mulher é a perdição, inclusive estendeu-se ao Ocidente, e trouxe com ela a crença que toda a relação sexual é impura. Isto constitui ainda que debaixo de uma forma não extrema, a visão da Igreja... (ver “Matrimônio e Ética”).

       As atitudes negativas frente à sexualidade continuaram, através dos séculos, a afetar as massas de crédulos de uma maneira desfavorável e igualmente excessiva, criando um sentimento de repugnância frente à sexualidade. A alta incidência de transtornos psicossomáticos e de inquietudes espirituais é unicamente atribuída por alguns psicanalistas ao predomínio de uma sexualidade negativa profundamente enraizada.

       Quais podem ter sido os fatores para a origem das concepções erradas relativas à sexualidade?

       Quais podem ser para os homens, as razões de privar-se da satisfação natural e do bem estar psicossomáticos associados a uma sexualidade saudável e desejável?

       Por que os homens deveriam levar uma vida que tende a condenar virtualmente uma parte essencialmente saudável de suas vidas? Essas são algumas das perguntas complexas sobre as quais os homens que refletem têm algumas repostas, a provar, significativas e convincentes. Contudo, sabemos que pode haver diferentes razões e causas para uma aversão à sexualidade humana.

       Estas razões compreendem, aparentemente, um pensamento preconceituoso frente ao desejo e às relações sexuais. O preconceito foi elevado ao extremo entre os Cristãos na organização de suas Igrejas e do Clero. O Celibato de Jesus Cristo lhes inspira de tal maneira que o matrimônio para os santos e os padres foi considerado como o equivalente à profanação de sua castidade e piedade. Também os papas são sempre escolhidos entre os clérigos solteiros. Na realidade, todos os membros do clero católico estão em dívida com seu voto de celibato e castidade.

       Bertrand Russel disse: “Duas ou três belas descrições desta instituição (o Matrimônio) foram compiladas na imensa massa dos escritos da patrística; mas, geralmente, seria difícil conceber algo mais vulgar e repugnante que a maneira como o consideram...”.

       O objetivo da asceta era o de chamar os homens a uma vida de virgindade, e como uma conseqüência necessária, o matrimônio foi tratado como um estado inferior e deveria desaparecer... “Cortar com o machado da virgindade e medula do matrimônio” era a linguagem energética de São Jerônimo, a meta do Santo... (Ver “Matrimônio e Ética”).

       A igreja aprova o matrimônio dentro do objetivo da procriação humana. A necessidade da população da espécie humana não é analisada como uma coisa apropriada para apagar a mancha da impureza de todo ato sexual. Uma razão a mais para admitir o matrimônio é eliminar a fornicação entre homens e mulheres. Citando de novo Bertrand Russel: “A Cristandade, e muito particularmente São Paulo, introduziu uma concepção inteiramente nova de matrimônio, segundo a qual existe, primitivamente, não para a procriação de crianças, mas para prevenir o pecado da fornicação.” (Ver “Matrimônio e Ética”).

       A Igreja Católica vê o matrimônio como sacramento e um comprometimento até o dia de morte. Também a dissolução do matrimônio - ou divórcio - não é permitida. A proibição da anulação do matrimônio - ou divórcio - pode ter a ver com o desejo de pagar pelo pecado original, que provocou a expulsão de Adão e Eva do Paraíso na condição de solteiros.

       Atitudes irracionais em relação às mulheres prevaleceram em certos povos antigos. Isto guarda relação com a idéia segundo a qual a mulher não seria um ser humano completa, posto que sua situação, na condição de criatura, poderia bem situar-se de algum modo entre o humano e o animal. Ela foi igualmente desprovida de um espírito definido: A mulher não teria jamais acesso ao paraíso! Outras superstições similares predominavam no passado.

       Felizmente, as crenças e noções acima mencionadas não foram universalmente levadas ao extremo. Em geral, os limites naturais das mulheres, com os quais eram identificadas e avaliadas no passado, não foram alterados. Os modos de pensamento tradicionais não iriam além de prolongar o desenvolvimento de um sentimento de orgulho entre os homens e de inferioridade entre as mulheres, através das gerações.

       Aparentemente, a crença no horror inerente ao desejo e às relações sexuais tem feito homens e mulheres absoluta e igualmente desgraçadas em termos espirituais. Ademais, esta crença provocou um conflito algo desmoralizante entre a exigência do instinto natural e a crença religiosa concernente ao desejo carnal e à relação sexual.

      As inquietudes e a desgraça espirituais provêm, em grande medida, dos conflitos acima mencionados, implicando numa discordância entre desejos autênticos e a aversão socialmente causada pela sua realização. O problema tomou proporções extraordinárias, de tal modo que chegou a ser o tema de intensivas investigações por psicólogos e psicanalistas.

       No contexto precedente, a lógica revolucionária do Islã pode ser de um interesse extraordinário. O Islã não diz que o desejo sexual é mal em si, ou que está, necessariamente, cheio de conseqüências nefastas. Pelo contrário, o esforço islâmico a este respeito tende considerar a sexualidade de uma maneira mais humana.

       A perspectiva do Islã no tocante às relações sexuais humanas não está limitada pelos interesses da sociedade presente ou da posteridade. Neste sentido, o conhecimento islâmico segue uma linha de conduta bem conhecida, não conduzindo a nenhuma forma de privação nem frustrações sexuais, tampouco a nenhum desejo sexual reprimido ou inibido. É lamentável que eruditos como B. Russel, que têm avaliado as morais Cristãs e Budistas, tenham se abstido de comentar, com precisão, a ética sexual islâmica. 

       Em seu livro “Matrimonio e Ética”, o autor faz menção ao Islã incidentalmente. E diz, por exemplo: “Os grandes chefes religiosos, com a exceção de Mohamad e Confúcio - se é que se pode chamar-lhe de religioso - têm se mostrado, em geral, bastante indiferentes às condições políticas e sociais, preferindo buscar a perfeição da alma por meio da meditação, disciplina e renúncia”.  

       É certo, contudo, que do ponto de vista islâmico, o desejo sexual não é somente compatível com a intelectualidade ou a espiritualidade humana, senão que está presente como parte da natureza e do temperamento dos profetas. Segundo a tradição (hadiz), “o amor e a afeição pelas mulheres são características da conduta moral dos profetas”.

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