Por Wisam Zoghbour, para a Agência Abna, desde Gaza
repete-se a mesma cena: casas arrasadas, bairros apagados, infraestrutura arrancada, deixando para trás escombros que narram capítulos da Nakba contínua. As pessoas não retornam, nem lhes é permitido retornar, e a vida se transforma em deslocamento permanente dentro de um território que encolhe a cada dia.
Com a ameaça de invasão ao coração da Cidade de Gaza, o que vem pela frente será mais violento, e a destruição, ainda maior. A experiência da trégua de 19 de janeiro passado, quando alguns deslocados retornaram temporariamente ao norte da Faixa, será apenas uma exceção passageira, pois a ocupação já não esconde sua intenção de consolidar uma nova realidade, sem retorno às casas e sem permanência da população em sua terra.
Hoje, os contornos desse projeto se revelam de forma mais nítida: um deslocamento coletivo organizado, que não se limita a expulsar a população internamente, mas volta seu olhar para fora da Faixa, com o aumento de relatos sobre a disposição de alguns países em receber os deslocados. O que ocorre é uma preparação explícita para deportar palestinos à força para o exílio, dentro de um plano que visa esvaziar Gaza de sua população e eliminar sua presença humana e política.
Isso não é apenas um crime de limpeza territorial, mas um projeto de substituição total, que completa os capítulos da Nakba iniciada em 1948. É um desmantelamento a partir de dentro, que tem como alvo a identidade da terra e de seu povo, redesenhando o mapa de Gaza para servir ao projeto da ocupação.
O que acontece hoje em Gaza não é uma tragédia passageira, mas um momento decisivo na história do conflito: um teste à vontade dos palestinos de permanecer e à consciência do mundo em dizer “basta”, antes que seja imposto a este povo um novo exílio e uma diáspora sem retorno.
Edição de Texto: Alexandre Rocha
Wisam Zoghbour é jornalista, membro da Secretaria-Geral do Sindicato dos Jornalistas Palestinos e diretor da Rádio Voz da Pátria
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