Segundo Dina Yulianti Sulaeman, Professora Assistente de Relações Internacionais da Universidade Padjadjaran da Indonésia.
Ela fez as declarações em um evento online intitulado "Dignidade e Poder do Irã; Uma Mensagem Além dos Mísseis", organizado pela IQNA no sábado. O evento ocorreu após uma agressão EUA-Israel de 12 dias ao Irã e a poderosa defesa do país contra os agressores.
Ela observou que a agressão ensina ao Sul Global a buscar autossuficiência, diplomacia independente e reavaliação dos órgãos internacionais.
O que segue é o vídeo completo e o texto da declaração de Sulaeman:
Senhoras e senhores,
Hoje, falo diante de vocês não apenas como uma estudiosa de geopolítica, mas como um ser humano preocupado com o colapso moral de nosso chamado sistema internacional.
Vamos começar com uma cena de junho de 2025.
O mundo estava assistindo com esperança enquanto o Irã e os Estados Unidos faziam progressos nas negociações nucleares. Após anos de tensão e desconfiança, ambos os lados haviam expressado satisfação. Havia possibilidades reais de um acordo pacífico.
Mas então, no meio desse progresso, Israel lançou um ataque militar surpresa ao Irã. Logo depois, os Estados Unidos se juntaram, bombardeando as instalações nucleares do Irã—instalações que estavam sob supervisão legal da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Agora se pergunte:
- É assim que a diplomacia funciona?
- É assim que o direito internacional funciona?
Do ponto de vista legal, a resposta é muito clara. Esses ataques foram uma violação do Artigo 2(4) da Carta das Nações Unidas, que proíbe qualquer uso de força contra a soberania e integridade territorial de um país.
O Professor Marko Milanović, um respeitado especialista em direito internacional, chamou a ação de Israel de "crime de agressão"—um dos crimes mais sérios sob a lei global.
Mas a resposta das instituições internacionais—a ONU, a AIEA, os chamados guardiões da ordem global—foi silêncio.
Silêncio diante da agressão. Silêncio diante da injustiça. Silêncio que fala mais alto que qualquer palavra.
Ainda pior, as leis humanitárias foram quebradas.
Relatórios confirmaram que os ataques atingiram áreas civis próximas a locais militares. O mais chocante foi o bombardeio de um veículo do Crescente Vermelho que estava entregando ajuda humanitária. Esta é uma clara violação da Quarta Convenção de Genebra, que protege missões humanitárias durante a guerra. Isso não foi apenas um ato ilegal. Foi um potencial crime de guerra.
Mais uma vez, as instituições globais emitiram apenas declarações vagas pedindo "contenção" e "desescalada". Eles se recusaram a nomear os violadores. Eles se recusaram a agir. E nessa recusa, eles nos mostraram sua verdadeira natureza.
Senhoras e senhores,
Isso não é apenas sobre o Irã. Isso faz parte de um padrão maior, um padrão que vimos repetidamente na Palestina.
Por mais de 75 anos, o povo palestino tem sofrido ocupação ilegal, demolições de casas, bloqueio e violência militar. Milhares morreram. Milhões vivem sem direitos básicos. E ainda assim, o Conselho de Segurança da ONU, por causa do veto americano, falhou em tomar qualquer ação significativa.
O Irã, por outro lado, tem defendido consistentemente a causa palestina.
Não por ganho político. Não por poder. Mas porque defender os oprimidos é um dever moral. O Irã apoiou o direito dos palestinos de resistir à ocupação, de viver com dignidade e de existir como um povo livre.
Mas o que o Irã recebeu em troca? Sanções. Ameaças.
E agora, ataques diretos em seu território—sem consequências para os atacantes. Por quê? Porque as regras do jogo não são as mesmas para todos.
Vamos olhar uma comparação simples:
- Quando o Irã enriqueceu urânio a 60%—ainda dentro dos limites pacíficos—foi condenado pela AIEA e sancionado.
- Mas quando Israel destruiu a instalação nuclear de Natanz, que estava sob supervisão da AIEA, a agência apenas publicou um relatório técnico. Nenhuma condenação. Nenhuma indignação internacional.
Isso é o que chamamos de padrão duplo. E padrões duplos destroem a legitimidade das instituições internacionais.
Como podemos confiar nessas instituições quando elas aplicam a lei a alguns, mas permitem que outros ajam com completa impunidade?
Vamos ser honestos:
A ONU e a AIEA foram criadas após a Segunda Guerra Mundial com a promessa de prevenir outra catástrofe global. Mas sua estrutura conta uma história diferente.
- O Conselho de Segurança da ONU dá poder de veto a cinco países—EUA, Reino Unido, França, China e Rússia.
- Esse veto paralisou a justiça global, especialmente quando envolve aliados dessas potências.
E a AIEA, que deveria ser um órgão técnico independente, é pressionada por interesses políticos, especialmente dos Estados Unidos e seus aliados europeus.
Então devemos perguntar:
Essas instituições são verdadeiramente neutras?
Ou são fachadas legais—belas por fora, mas escondendo a verdade feia da política de poder?
Para países como o Irã e o Sul Global, esses eventos não são apenas reveses políticos—são lições.
- Lições de que a autossuficiência é essencial.
- Lições de que a diplomacia independente é necessária.
- Lições de que a confiança nas instituições internacionais deve ser reavaliada.
Ao mesmo tempo, esta crise é um alerta para a comunidade global.
Se não reformarmos a estrutura da ONU—especialmente o sistema de veto,
Se não exigirmos que a AIEA aplique suas regras igualmente,
Se não estabelecermos responsabilidade para todos os violadores do direito internacional,
Então estamos caminhando para um futuro sem justiça, sem paz, sem confiança.
Senhoras e senhores,
O que estamos testemunhando é mais que uma guerra entre países. É uma batalha entre lei e anarquia, entre justiça e hipocrisia.
A defesa do Irã da Palestina não é apenas sobre geopolítica. É sobre princípios.
É sobre se recusar a permanecer em silêncio quando crianças são bombardeadas em Gaza.
É sobre dizer não à arrogância do poder que ignora o direito internacional quando se torna inconveniente.
Não nos deixemos enganar pelos discursos elegantes em Nova York ou Viena.
Vamos ouvir o silêncio quando as bombas caem.
Vamos ouvir a ausência de justiça nos corredores do Conselho de Segurança.
E vamos responder não com desespero, mas com clareza:
O tempo para reforma é agora.
O tempo para liderança honesta é agora.
E o tempo para defender os oprimidos—mesmo quando é impopular—é agora.
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