No epicentro da fome que atinge a Faixa de Gaza, entre os escombros da guerra e da destruição, sobressai um crime que não é menos cruel do que os bombardeios diários e o cerco contínuo: o saque e o monopólio da ajuda humanitária por máfias e quadrilhas que operam às claras, à vista e ao alcance de todos, sem que haja fiscalização ou punição.
Pôr fim à guerra de extermínio e garantir a retirada total de Israel de cada centímetro de Gaza não é apenas uma exigência nacional ou política: é uma condição fundamental para salvar o que resta de vida neste território devastado. A fome desenfreada e o colapso dos sistemas de saúde, educação e meio ambiente não serão resolvidos com lançamentos aéreos de ajuda ou com seu trânsito por pontos de passagem sujeitos à chantagem e ao saque, mas sim com o fim da ocupação e a garantia de plena soberania do nosso povo sobre sua terra, suas decisões e seus recursos.
Pôr fim à guerra de extermínio e garantir a retirada total de Israel de cada centímetro de Gaza não é apenas uma exigência nacional ou política: é uma condição fundamental para salvar o que resta de vida neste território devastado. A fome desenfreada e o colapso dos sistemas de saúde, educação e meio ambiente não serão resolvidos com lançamentos aéreos de ajuda ou com seu trânsito por pontos de passagem sujeitos à chantagem e ao saque, mas sim com o fim da ocupação e a garantia de plena soberania do nosso povo sobre sua terra, suas decisões e seus recursos.
As manobras da ocupação e suas mentiras foram rapidamente desmascaradas: alega combater a fome ao mesmo tempo em que reduz a ajuda e supervisiona, direta ou indiretamente, o caos que envolve sua distribuição. A ajuda que entra pelo ponto de passagem de Karam Abu Salem frequentemente não chega aos que dela precisam: é saqueada, enquanto as forças de ocupação se mantêm como espectadoras, senão cúmplices, numa tentativa maliciosa de macular a imagem de resistência do povo palestino, apresentando-o como um bando que se digladia por migalhas de comida.
A tragédia, no entanto, não se limita à ocupação. Estende-se também ao interior, onde redes de pessoas influentes controlam a distribuição da ajuda, transformando-a num comércio lucrativo, vendida a preços exorbitantes num momento em que a maioria da população não consegue sequer comprar pão. Enquanto o cidadão é forçado a sacar seu dinheiro com um desconto que pode chegar a 45%, os órgãos responsáveis se mantêm inertes, e até em silêncio, numa atitude que se assemelha à conivência com os saqueadores da guerra.
A manutenção dessa realidade constitui um crime contra a dignidade nacional e um crime humanitário contra os pobres e os famintos. Não se deve aguardar um cessar-fogo para iniciar a responsabilização, pois a fome não espera e a ética não obedece a calendários políticos. Pelo contrário: é preciso começar desde já a perseguir e punir todos os que roubam o pão da boca das crianças e os que transformam a guerra em meio de enriquecimento ilícito.
Nossa luta hoje não é apenas contra a ocupação e seu aparato militar, mas também contra os mercadores do sofrimento e sugadores de sangue. E, se não forem contidos, quaisquer esforços de trégua ou reconstrução serão inúteis, pois a corrupção, a mesma que devorou a ajuda humanitária, devorará também qualquer esforço de trégua ou reconstrução.
A solução não começa com conferências, mas com ações concretas: cessar-fogo imediato, retirada da ocupação da Faixa de Gaza, garantia de que a ajuda seja fornecida por mecanismos transparentes e organizados, e cooperação palestino-egípcia eficaz para dar início a um processo de reconstrução sob supervisão nacional independente, que devolva a confiança e a esperança a Gaza.
Nosso povo merece a vida, não as migalhas. Merece ser recompensado por sua resistência, e não punido com a fome duas vezes: uma vez pela ocupação, outra pelos mercadores da guerra.
Autoria: Wisam Zoghbour é jornalista, membro da Secretaria-Geral do Sindicato dos Jornalistas Palestinos e diretor da Rádio Voz da Pátria.
Edição de Texto: Alexandre Rocha
Fonte: Revista Diálogos do Sul Global
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