Agência de Notícias AhlulBayt (ABNA): A cidade de Belém, berço do cristianismo e patrimônio de toda a humanidade, enfrenta um dos planos mais sombrios e perversos do colonialismo israelense. O projeto revelado busca dividir o coração espiritual da Palestina — Belém, Beit Jala e Beit Sahour — em três entidades distintas, despojando-as de sua estrutura histórica, cultural e religiosa e submetendo-as a diferentes formas de administração estrangeira: ocupação israelense, intervenção americana e controle do Vaticano sobre locais sagrados.
O plano não é novo. De Oslo até o presente, o sionismo tem trabalhado sistematicamente para fragmentar a Palestina em enclaves desconexos, cercados por assentamentos, muros e bases militares. No entanto, o que está sendo proposto hoje com Belém é ainda mais sério: busca separar as comunidades palestinas de suas próprias raízes espirituais e de sua conexão milenar com a terra.
Nesse esquema, Beit Jala seria permanentemente separada de Belém e conectada aos assentamentos coloniais de Har Gilo, Gilo e Etzion. Isso significa isolá-la de sua identidade palestina e absorvê-la no projeto da "Grande Jerusalém" que Israel promove como sua capital eterna. Para os habitantes de Beit Jala, muitos deles descendentes de famílias que ali vivem há séculos, isso representa uma dupla desapropriação: territorial.
A cidade de Belém seria colocada sob uma administração civil "especializada em assuntos religiosos", com o Vaticano encarregado da Igreja da Natividade e regulando o acesso de peregrinos internacionais. Dessa forma, o objetivo é reduzir Belém a um museu religioso sem povo, negando aos seus habitantes palestinos o direito de exercer soberania e uma vida política própria.
Beit Sahour, a cidade dos pastores, estaria sujeita à estrutura de acordos ditados pela ocupação (como o acordo de Adumim), o que, na prática, significaria uma administração controlada por Israel e subordinada às suas colônias. O plano visa desintegrar a resistência comunitária, que historicamente tem sido um exemplo de organização popular contra o colonialismo.
Um dos pontos mais reveladores do plano é a eliminação do campo de Dheisheh, símbolo da Nakba em curso e da resistência dos refugiados palestinos. A intenção é clara: apagar a memória viva do direito de retorno e dispersar seus habitantes sob pressão política e social.
O projeto inclui impor aos habitantes de Belém uma identidade restrita apenas à cidade, sem direitos nacionais ou políticos no restante da Cisjordânia. Em outras palavras, uma forma moderna de apartheid urbano, onde os palestinos se tornariam meros moradores tolerados, sem cidadania real.
O caso de Hebron mostra para onde esse modelo caminha: a divisão em três zonas, cada uma controlada por clãs sob supervisão israelense, com bancos palestinos absorvidos por bancos israelenses. Um sistema feudal-colonial que elimina a possibilidade de unidade política palestina e transforma as cidades em ilhas administradas pela ocupação.
O papel do Vaticano, do governo americano e o próprio silêncio da comunidade internacional não podem ser minimizados. Transformar Belém em um enclave religioso administrado externamente evoca as tentativas coloniais de outrora de apropriação de locais sagrados, mas agora sob a lógica do apartheid israelense.
A fragmentação de Belém não é uma questão local: é um ataque direto à identidade palestina e à memória universal da humanidade. Beit Jala, Beit Sahour e Belém não são simplesmente territórios; são símbolos de resistência, cultura e história.
Aceitar este plano validaria um novo tipo de Nakba, onde a terra e a fé se tornam mercadorias sob controle colonial.
Diante disso, a voz palestina — muçulmana e cristã, na Palestina e na diáspora — deve se unir vigorosamente para denunciar este projeto, resistir a ele e lembrar ao mundo que Belém não está dividida; Belém é a Palestina.
Editorial da União Palestina da América Latina - UPAL
1º de setembro de 2025
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