Agência de Notícias AhlulBayt (ABNA): Quando Donald Trump anunciou sua proposta para encerrar a guerra em Gaza, muitos a saudaram como um "plano de paz histórico". No entanto, após uma análise mais aprofundada, o que emerge não é um acordo de paz consolidado, mas sim um cessar-fogo condicional, uma pausa com mais perguntas do que respostas.
O texto apresentado por Trump propõe a cessação imediata das hostilidades, a libertação recíproca de reféns e prisioneiros, a entrada de ajuda humanitária e a retirada parcial das tropas israelenses. Ele também fala de uma administração palestina "tecnocrática" que assumiria temporariamente a gestão civil de Gaza, sob supervisão internacional. Mas, além desses gestos iniciais, nenhum horizonte político real é definido: não há menção à soberania palestina, ao direito de retorno, ao fim do bloqueio ou à ocupação que alimenta todos os surtos de violência.
Trump, fiel à sua forma, apresentou esta iniciativa como uma conquista pessoal, sem abordar o cerne do conflito: a colonização contínua, a negação do Estado palestino e a impunidade israelense. Um cessar-fogo pode parar as bombas, mas não cura as raízes do sofrimento. Se a ocupação não for encerrada, qualquer cessar-fogo será apenas uma trégua temporária antes do próximo surto.
O Hamas concordou em discutir trocas de prisioneiros e uma transição limitada, mas sem renunciar à resistência ou entregar o controle político de Gaza sem garantias. Israel, por sua vez, vê o plano como uma oportunidade para impor uma "paz administrativa" que mantenha seu controle militar e econômico. Assim, cada parte interpreta o texto de acordo com seus próprios interesses, tornando o futuro do acordo incerto.
Governos árabes que apoiam a mediação, como Egito, Catar e Jordânia, sabem que sem uma solução abrangente – incluindo a Cisjordânia, Jerusalém e o levantamento completo do bloqueio – qualquer tentativa será de curta duração. A verdadeira paz não é decretada por Washington nem imposta com condições; Ela decorre do pleno reconhecimento do povo palestino e de seu direito de existir livremente em sua terra.
O plano de Trump, em sua forma atual, é um cessar-fogo com aspirações diplomáticas, não um plano de paz. Poderia ser o início de algo maior se se transformasse em um processo sério de descolonização e justiça. Mas, se permanecer como um acordo temporário sem garantias, entrará para a história como mais um episódio de manipulação política disfarçada de esperança.
E um princípio fundamental deve ser ressaltado: nenhum acordo ou negociação sobre o futuro da Palestina pode ser considerado legítimo sem a participação de todos os grupos e partidos políticos palestinos. Somente o povo palestino, como um todo e por meio de sua unidade nacional, tem autoridade moral e política para decidir seu destino.
Enquanto isso, o povo palestino continua pagando o preço da impunidade internacional. E, como tantas vezes acontece, cabe a nós lembrar que a paz não se constrói com promessas, mas com verdade, justiça e liberdade.
União Palestina da América Latina - UPAL
Editorial da UPAL – 11 de outubro de 2025
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