Agência de Notícias AhlulBayt (ABNA): Quatro conselhos muçulmanos dos departamentos de Loiret, Aube, Bouches-du-Rhône e Seine-et-Marne apresentaram uma queixa ao Tribunal Judicial de Paris contra pessoa desconhecida pela publicação de uma pesquisa do IFOP, encomendada pela revista Écran de Veille e divulgada em 18 de novembro, acusando-a de violar a lei francesa de 19 de julho de 1977 sobre a imparcialidade nas sondagens de opinião.
Os advogados Raphaël Kempf e Romain Ruiz afirmam que as perguntas foram redigidas de maneira provocadora, que houve manipulação na apresentação dos resultados — ao inserir a palavra “sharia” entre parênteses ao lado da expressão “preferência pelas normas religiosas em detrimento da lei francesa”, quando tal termo jamais apareceu nas perguntas — e que criminaliza práticas legais, como o abate ritual, compartilhado por muçulmanos e judeus.
A denúncia destaca que a pesquisa, realizada com uma amostra de 1.005 muçulmanos, amplifica respostas minoritárias com fins sensacionalistas e tem sido utilizada por meios de comunicação e círculos de extrema direita para apresentar os muçulmanos franceses como uma ameaça interna. O Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM) e o reitor da Grande Mesquita de Paris também condenaram o estudo por alimentar ativamente o medo e a islamofobia.
Da Alemanha, o secretário-geral da Comunidade Islâmica Milli Görüş, Ali Mete, classificou o relatório como “extremamente tendencioso e perigoso” por vincular diretamente práticas devocionais — como a oração regular, o jejum do Ramadã ou a frequência à mesquita — ao “radicalismo político”, o que, em sua avaliação, reforça estereótipos e enfraquece a coesão social.
O Ministério do Interior da França registrou neste ano um aumento de 75% nos incidentes islamofóbicos em relação ao ano anterior, um contexto em que as associações muçulmanas alertam que esse tipo de publicação se transforma em ferramenta de intimidação e estigmatização sistemática da minoria muçulmana.
O caso, que pode criar um precedente sobre a responsabilidade dos institutos de pesquisa, reabre o debate nacional sobre os limites entre a liberdade de investigação e a incitação ao ódio religioso em um país que se apresenta como berço do laicismo.
..................
308
Your Comment