16 novembro 2025 - 01:24
“Jerusalém: A Cruz Sitiada, a Fé que Resiste”

O recente relatório publicado pelo Al-Bawaba Al-Masriyya sobre “a presença cristã em Jerusalém”, com declarações de Dimitri Dlianni, presidente do Movimento Nacional Cristão na Terra Santa, não só documenta uma dolorosa realidade, como também denuncia uma política sistemática de desenraizamento e substituição cultural. Jerusalém, a cidade do espírito e da promessa, vive hoje sob um cerco que não faz distinção entre a cruz e o crescente, porque o objetivo final da ocupação israelense é apagar tudo o que remete à Palestina.

O povo cristão palestino não é um grupo religioso à parte do seu entorno, mas sim os mais antigos guardiões da fé na terra onde Cristo nasceu. Desde as primeiras comunidades de fiéis até os atuais habitantes dos bairros cristãos da Cidade Velha, a sua presença tem sido parte essencial da identidade de Jerusalém. Cada pedra de seus mosteiros, cada rua de seus antigos mercados e cada igreja construída sobre séculos de oração testemunham um cristianismo profundamente árabe e palestino, inseparável da história do lugar.

Pois naquela mesma terra, há mais de dois mil anos, Jesus Cristo — palestino de nascimento e espírito — foi o primeiro mártir a defender a dignidade e os direitos humanos do povo oprimido. Sua mensagem de justiça, igualdade e amor pelos humildes continua sendo uma denúncia viva de todas as formas de ocupação, opressão e racismo. A cruz que ele carregou não era apenas um símbolo de sacrifício, mas também de resistência contra a injustiça.

Mas hoje, esse legado está sob constante ameaça. Os ataques contra igrejas e mosteiros, a profanação de túmulos, as agressões contra o clero e peregrinos e a impunidade para esses crimes revelam uma tentativa deliberada de esvaziar Jerusalém de sua alma diversa. A isso se soma a pressão econômica imposta pelas autoridades israelenses: impostos exorbitantes, negação de permissões, restrições à circulação e uma atmosfera sufocante que força muitas famílias cristãs palestinas a emigrar. Cada família que parte é uma ferida aberta na memória da cidade.

O deslocamento forçado, o êxodo silencioso dos cristãos palestinos, não é um fenômeno aleatório: é o resultado direto de uma política de ocupação que busca substituir a história por uma narrativa artificial. Assim, a Jerusalém de Jesus e dos profetas, a cidade das três religiões, é empurrada para uma homogeneidade imposta que contradiz sua essência sagrada e universal.

Defender o cristianismo palestino não é apenas um dever religioso, mas um ato de fidelidade à verdade histórica. Proteger os cristãos da Palestina é proteger a própria Jerusalém, sua identidade humana, sua diversidade e sua alma. É também uma responsabilidade árabe e universal, porque o ataque às igrejas e aos seus fiéis é um ataque a toda a humanidade e à memória compartilhada dos povos.

A cruz e o crescente, símbolos de fé e resistência, unem-se hoje contra um inimigo comum: a ocupação que busca apagar as raízes palestinas de Jerusalém.

E essa união — espiritual, moral e humana — é o que mantém viva a esperança de que a cidade volte a ser o que sempre foi: um lar para todos os filhos da Palestina, sem exclusão ou subjugação.

Fonte: União Palestina da América Latina — UPAL

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