Por Pedro Pomar, no Portal SJSP
Desde que teve início o genocídio cometido por Israel em Gaza, em outubro de 2023, a Avenida Paulista presenciou diversas manifestações e marchas em defesa da Palestina e em protesto contra as atrocidades israelenses, várias das quais contaram com a presença ativa de diretoras e diretores do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP).
No entanto, nesta quinta-feira, 28 de agosto, o SJSP e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) promoveram numa calçada da Paulista, com o apoio e a participação de diversas outras entidades, um ato destinado a chamar a atenção da população para o assassinato, pelo Exército de Israel, de quase 250 jornalistas palestinos até agora, bem como denunciar o silêncio cúmplice das grandes emissoras e jornais brasileiros e estrangeiros.
Os manifestantes seguraram cartazes coloridos com as imagens de Anas al-Sharif, Mariam Abu-Dagga, Hussan al-Masri, Walla al-Jabari, Tamer al-Zaanin, Fátima Hassouna e outros(as) jornalistas de Gaza que Israel assassinou, além de placas com letreiros de denúncia do genocídio. “Mídia brasileira, pare de mentir sobre o que acontece na Palestina”, “Palestina Livre, do rio ao mar” e “Governo Lula, eu quero ver, a ruptura com Israel acontecer” foram as principais palavras de ordem entoadas durante o protesto.
Além do SJSP e da Fenaj, representados por vários diretores e diretoras, participaram do ato representantes de diversas entidades e grupos: Central Única dos Trabalhadores (CUT Nacional e CUT-SP), Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal), Frente Palestina de São Paulo, Coletivo Shireen Abu Akleh de Jornalistas Contra o Genocídio, Centro Acadêmico Lupe Cotrim (ECA-USP), Núcleo Palestina do PT, Movimento de Mulheres pela Paz na Palestina, Associação de Docentes da Universidade Federal do ABC, Sindicato dos Médicos (Simesp), Sindicato dos Escritores, Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, Comitê Pró Palestina do ABC e Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT). Também se manifestaram o vereador Lamé Smeili (PCdoB), de Guarulhos, e os jornalistas Breno Altman (Opera Mundi) e Rodolfo Lucena (Tutameia).
Thiago Tanji, presidente do SJSP, chamou atenção no seu pronunciamento para o estarrecedor número de jornalistas palestinos assassinados por Israel, que se pode comparar ao desaparecimento de uma grande redação. “Estas pessoas que estão realizando seu trabalho estão sendo deliberadamente mortas, uma a uma. Na segunda-feira, cinco jornalistas foram assassinados. No dia 10, outros cinco”, denunciou. “Não podemos naturalizar isso. Temos o dever de conversar com cada pessoa na rua, para não naturalizar o absurdo”, destacou, lembrando que o Exército de Israel usa atiradores, drones e outros equipamentos militares para localizar e matar jornalistas.
Ele descreveu um episódio que lhe foi relatado por um colega norte-americano que se encontrava no sul do Líbano, em outubro de 2024, ao lado de repórteres de diversas nacionalidades, devidamente identificados com coletes de imprensa, quando um tanque de Israel mirou e disparou seu canhão propositalmente contra o grupo. “Um repórter-cinematográfico morreu, uma fotojornalista perdeu uma das pernas, esse jornalista norte-americano ficou gravemente ferido. Isso tudo está registrado”, disse Tanji.
Genocídio é morte de pessoas por emprego de crueldade, assinalou, descrevendo ações e circunstâncias promovidas pelas forças armadas de Israel em Gaza. “Esses jornalistas estão realizando o trabalho de contar o que é um genocídio. Se não é crueldade matar pessoas de fome; se não é crueldade matar pessoas por doença; se não é crueldade realizar massacre de pessoas que estão buscando pão; se não é crueldade matar jornalistas deliberadamente para que a verdade não seja levada para fora, então o que mais é um genocídio?”, questionou o presidente do SJSP.
“Nós jornalistas estamos dizendo o seguinte: cada jornalista assassinado na Palestina merece justiça. Infelizmente, enquanto jornalistas estiverem sendo assassinados, enquanto o povo palestino estiver sendo assassinado por Israel, a gente tem que continuar na rua, na luta, para que mais cedo que tarde a gente comemore a libertação do povo palestino e a dignidade da nossa profissão, que tem o papel de contar essas histórias”, concluiu Tanji.
“Esse ato de resistência chamado pelos jornalistas é extremamente importante, num momento em que vemos o extermínio de um povo. São quase 250 jornalistas, mas são quase 1.400 profissionais de saúde que foram mortos nesse genocídio”, apontou Juliana Sales, dirigente do Simesp e da CUT nacional, ao se manifestar no ato. “Nós estamos numa movimentação pela libertação de um dos prisioneiros de Israel, doutor Abu Safiya. Desde janeiro este médico, que era diretor de um dos hospitais do norte de Gaza, foi preso com sua equipe”, revelou ela.
Embora sua equipe tenha sido posteriormente libertada, Abu Safiya continua preso nas terríveis condições em que se encontram outros milhares de prisioneiros palestinos. “Ele continua preso e torturado nas masmorras de Israel. Ele já emagreceu quase 40 quilos. Ele denunciou em julho, quando esteve com seu advogado, que eram fornecidas simplesmente duas colheres de arroz por dia”.
Juliana clamou pela libertação do médico e pelo fim do genocídio. “Vocês viram nas últimas semanas que a intenção de Israel não é negociar coisa nenhuma, é invadir, acabar com o território dos palestinos. É preciso que se vá mais além, que Lula rompa as relações diplomáticas e comerciais com Israel”, disse a sindicalista, recebendo aplausos.
Amyra El Khalili, pelo Movimento Mulheres pela Paz na Palestina, leu um texto escrito pelo jornalista Wisam Zoghbour, de Gaza, intitulado “Na trincheira da verdade: o dever ético do Sindicato dos Jornalistas Palestinos em tempos de extermínio”. Nele, Zoghbour, que é diretor daquele sindicato, afirma que ele se manteve “na linha de frente da guerra, sem hesitar ou ceder a cálculos mesquinhos”, e não se limitou “a emitir notas ou apelos”, pois “assumiu a responsabilidade pela proteção, pelo cuidado e pelo fortalecimento profissional de dezenas de jornalistas em um dos ambientes mais letais e perigosos do planeta”.
“No coração dos massacres, entre os escombros, no completo corte de energia elétrica, internet e comunicações, o Sindicato ofereceu refúgio aos jornalistas por meio dos centros de solidariedade midiática instalados na Faixa de Gaza”, nos quais “os jornalistas puderam enviar imagens dos massacres, transmitir as mensagens da população e documentar os ferimentos de crianças e mães, apesar da máquina de guerra que mira tudo o que se move, tudo o que ousa contar a verdade”.
O Sindicato, “um dos organismos sindicais mais antigos da Palestina, esteve à altura do desafio”, diz o texto lido por Amira. “Antecipou-se às instituições internacionais, que se omitiram ou limitaram-se a notas de preocupação, e decidiu colocar todos os seus recursos a serviço do terreno. Equipou os centros com fontes de energia e acesso à internet, forneceu aos jornalistas as ferramentas logísticas possíveis e ofereceu inclusive apoio psicológico e moral às famílias dos colegas mártires e feridos, que tombaram empunhando câmeras e canetas, não armas”.
Walid Shuqair, secretário-geral da Fepal, lembrou que além do enorme número de vítimas fatais em Gaza (quase 63 mil) há 170 mil pessoas feridas, entre as quais muitas com amputações de membros. “Esse ataque aos jornalistas faz parte do processo de limpeza étnica que Israel está fazendo na Palestina desde 1947. Eles [israelenses] não querem só acabar com a transmissão ao vivo do que está acontecendo. Eles querem acabar com os vestígios, com as provas dos crimes de guerra que eles estão cometendo. Todas as redações da Faixa de Gaza, sem exceção, foram destruídas, junto com seu acervo. Isso significa que eles querem apagar a história do povo palestino. O ataque aos jornalistas é também para limpar as provas do genocídio”.
Sobre o recente e chocante episódio no Hospital Nasser, de Khan Yunis, Shuqair afirmou que os ataques deliberados e repetidos àquele local, onde se encontravam jornalistas e uma equipe de resgate que atendia feridos, provam que o grau de crueldade das ações praticadas pelo Exército israelense extrapola todos os crimes contra a Humanidade cometidos até hoje.
“É importante a gente denunciar esses crimes e dizer que as mídias hegemônicas, aquelas que estão protegendo e encobrindo o Estado de Israel, também são rés nesse crime de guerra. Também terão de responder pelo genocídio do povo palestino”, frisou o secretário-geral da Fepal.
Confira aqui gravação em vídeo com a íntegra da manifestação realizada na Avenida Paulista.
https://www.youtube.com/live/6TuEicK-QfM
Pedro Pomar é jornalista e diretor do Sindicato dos Jornalistas na Estado de São Paulo (SJSP)
Portal do SJSP, 29 de agosto de 2025
https://sjsp.org.br/na-avenida-paulista-sjsp-fenaj-e-entidades-pro-palestina-denunciaram-israel-por-assassinato-em-massa-de-jornalistas-em-gaza-e-midia-brasileira-por-cumplicidade/
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