Agência Internacional de Notícias Ahlul Bayt (ABNA): O sacrifício por Deus é um conceito que carrega em seu cerne uma verdade profunda e celestial. Este sacrifício não é apenas um ato emocional ou uma reação instantânea, mas sim o resultado da consciência, do conhecimento e de uma visão monoteísta que tira o ser humano do egocentrismo e o conduz em direção a um foco em Deus e ao amor por Suas criaturas. Tal sacrifício não significa apenas abrir mão de bens materiais, mas às vezes inclui abrir mão do tempo, da posição, da reputação e até da vida no caminho de Deus e para obter Sua satisfação.
Nos ensinamentos do Sagrado Alcorão, o sacrifício por Deus está ligado à bondade para com os outros, ao serviço à criação e ao altruísmo pelo bem comum. O versículo 92 da Surah Al-Imran diz: "لَنْ تَنالُوا الْبِرَّ حَتّی تُنْفِقُوا مِمَّا تُحِبُّونَ" (Você não alcançará a bondade até que doe aquilo que ama). Este versículo não apenas estabelece o critério para o sacrifício, mas também mostra que abrir mão daquilo que amamos é o caminho para alcançar o "birr" (bondade). No Alcorão, "birr" às vezes significa bondade absoluta e outras vezes, piedade completa.
O Mundo é Pequeno aos Olhos dos Grandes
Nas fontes narrativas, essa verdade também é bastante enfatizada. O Imam Baqir (que a paz esteja com ele) diz: "مَنْ أَعْظَمُ اَلنَّاسِ قَدْراً قَالَ مَنْ لَمْ یُبَالِ اَلدُّنْیَا فِی یَدِ مَنْ کَانَتْ فَمَنْ کَرُمَتْ عَلَیْهِ نَفْسُهُ صَغُرَتِ اَلدُّنْیَا فِی عَیْنِهِ وَ مَنْ هَانَتْ عَلَیْهِ نَفْسُهُ کَبُرَتِ اَلدُّنْیَا فِی عَیْنِهِ" (Ame al-Akhbar, v. 1, p. 109). As maiores pessoas são aquelas que não se importam com quem a riqueza mundial pertence. O Imam Ali (que a paz esteja com ele) também diz em um hadith: "مَن کَرُمَتْ نَفسُهُ صَغُرَتِ الدنیا فی عَینِهِ" (Aquele cuja alma é nobre, o mundo se torna pequeno aos seus olhos). (Ghurar al-Hikam, h 9130). Esta afirmação, em seu cerne, carrega a mensagem do sacrifício por Deus e da preferência pela Sua satisfação em detrimento dos apegos mundanos, e é por isso que o mundo é desprovido de valor aos olhos das maiores pessoas.
Exemplos históricos também testemunham esse significado. Quando o Profeta Abraão (que a paz esteja com ele) foi incumbido de sacrificar seu filho, ele aceitou de todo o coração, pois havia aprendido que a satisfação de Deus está acima de qualquer outro amor. O Alcorão Sagrado, na Surah As-Saffat, versículos 102 a 107, narra essa história com belas expressões e conclui dizendo: "إِنَّ هَذَا لَهُوَ الْبَلاءُ الْمُبِینُ وَ فَدَیْناهُ بِذِبْحٍ عَظیمٍ" (Certamente, esta foi uma prova evidente. E o resgatamos com um grande sacrifício). Aqui, o sacrifício atinge seu ponto mais alto e é registrado como o critério para passar no teste divino.
O sacrifício por Deus, se acompanhado de uma intenção pura, eleva o ser humano de um estado terreno a um estado de proximidade divina. No conhecido Hadith Qudsi sobre as orações superrogatórias, o Profeta (que a paz esteja com ele e sua família) diz que Deus afirmou: "Meu servo não se aproxima de Mim com nada mais amado a Mim do que o que Eu tornei obrigatório para ele, e ele continua a se aproximar de Mim com as orações superrogatórias até que Eu o ame... e quando Eu o amo, Eu me torno sua audição com a qual ele ouve, sua visão com a qual ele vê, sua língua com a qual ele fala, sua mão com a qual ele age, e seu pé com o qual ele caminha. Se ele Me pedir, Eu lhe darei, e se ele Me buscar por proteção, Eu o protegerei." (Mishkat al-Anwar, v. 1, p. 291). Esta narração mostra que a servidão e a aproximação de Deus são alcançadas através da realização das obrigações e depois de atos além delas, e o sacrifício pode ser um exemplo claro de atos superrogatórios.
Em continuidade com esse significado, o sacrifício não deve permanecer apenas no domínio da adoração. O que importa na visão monoteísta é que o ser humano pratique a servidão a Deus em todos os aspectos da vida, e um dos campos mais importantes é o "serviço à criação de Deus". Em um hadith do Profeta do Islã (que a paz esteja com ele e sua família), é dito: "مَن قَضی لأَخیهِ المُسلِمِ حاجَةً کانَ کَمن عَبَدَ اللّهَ عَزَّوَجَلَّ دَهرَهُ" (Quem satisfaz a necessidade de seu irmão muçulmano é como se tivesse adorado Deus, o Altíssimo, por toda a sua vida). (Kanz al-Ummal, h 9021).
Sacrifício pela Criação é Sacrifício por Deus
Desse ponto de vista, o sacrifício por Deus não está separado do serviço à Sua criação. Alguém que reza a Deus sozinho na solidão da noite, mas cujo coração não se comove com o necessitado, ainda não compreendeu a verdadeira servidão. O Sagrado Alcorão estabelece uma relação direta entre fé, caridade e bondade em vários versículos. A Surah Al-Baqarah, versículo 267, diz: "یا أَیُّهَا الَّذِینَ آمَنُوا أَنْفِقُوا مِنْ طَیِّباتِ ما کَسَبْتُمْ" (Ó vós que credes! Fazei caridade com as coisas boas que haveis ganho). Este mandamento estabelece uma ligação entre a fé e as boas ações, cuja essência é o sacrifício.
Na tradição da Ahl al-Bayt (que a paz esteja com eles), pode-se encontrar a manifestação completa desses ensinamentos. A história de três dias de jejum do Imam Ali, Lady Fátima, Imam Hassan e Imam Hussein (que a paz esteja com eles) e a doação de sua refeição de Iftar a um necessitado, um órfão e um cativo, que é mencionada na Surah Al-Insan, versículos 5 a 10, é um exemplo duradouro de sacrifício abnegado: "إِنَّمَا نُطْعِمُکُمْ لِوَجْهِ اللَّهِ لا نُرِیدُ مِنْکُمْ جَزاءً وَ لا شُکُوراً" (Nós vos alimentamos por amor a Deus; não desejamos de vós recompensa nem gratidão). Este versículo é uma prova da moral do sacrifício que tem suas raízes no monoteísmo.
A vida social também é um campo para este tipo de servidão. A pessoa fiel sabe que o altruísmo não significa a aniquilação de si, mas sim a "elevação do eu". Alguém que abre mão de seu tempo para ajudar um vizinho, ou de sua reputação para ajudar um oprimido, ou de sua riqueza para alimentar um necessitado, na verdade, está elevando sua própria alma. O Imam Sadiq (que a paz esteja com ele) disse em um hadith: "مِنْ أَحَبِّ الْإِیمَانِ إِلَی اللَّهِ الْإِیثَارُ" (A fé mais amada por Deus é o altruísmo). (Usul al-Kafi, v. 2, p. 82).
Mesmo nos ensinamentos místicos, o sacrifício é considerado a base da jornada espiritual. Os místicos muçulmanos dizem: "A jornada do eu para Deus começa com a aniquilação do eu na criação." Isso significa que, para alcançar o "fana fillah" (aniquilação em Deus), o ser humano deve transcender o egoísmo, a vaidade e o individualismo, dedicando sua existência ao serviço das criaturas de Deus com a intenção de se aproximar de Deus. Jalal ad-Din Rumi diz em seu Masnavi: "Este mundo é uma montanha, e nossas ações são o eco; o eco retorna a nós."
O Sacrifício é o Reflexo da Fé
Quanto mais uma pessoa tem fé, mais disposta ela estará a abrir mão de si mesma no caminho de Deus. Este sacrifício pode ser de riqueza, vida, ou mesmo de apegos e mundanismo. Mas o que distingue este sacrifício da hipocrisia, da pretensão ou da negociação religiosa é a intenção divina e a sinceridade no ato. O Sagrado Alcorão, na Surah At-Tawbah, versículo 111, diz: "إِنَّ اللَّهَ اشْتَری مِنَ الْمُؤْمِنِینَ أَنْفُسَهُمْ وَ أَمْوالَهُمْ بِأَنَّ لَهُمُ الْجَنَّةَ" (Deus comprou dos crentes suas vidas e seus bens em troca do Paraíso). Esta é uma transação que só é aceita com sinceridade.
Portanto, a educação religiosa deve treinar as pessoas para o sacrifício e o serviço. Se a religião se resumir apenas à oração e ao jejum, a conexão entre Deus e a criação será rompida, e a religião se reduzirá ao individualismo religioso. No entanto, a religião, em sua essência, é social e responsável. O Imam Ali (que a paz esteja com ele) diz em uma carta a Malik al-Ashtar: "فَإِنَّهُمْ صِنْفَانِ: إِمَّا أَخٌ لَکَ فِی الدِّینِ وَ إِمَّا نَظِیرٌ لَکَ فِی الْخَلْقِ..." (As pessoas são de duas espécies: ou seu irmão na religião ou seu igual na criação...). Esta é uma visão focada no serviço e na responsabilidade. (Nahj al-Balaghah, Carta 53).
O sacrifício de Deus para o serviço à criação é um caminho que todo crente monoteísta deve percorrer. Este caminho passa pelo coração das suratas do Alcorão, atravessa o coração das narrativas da Ahl al-Bayt (que a paz esteja com eles) e chega ao ser humano contemporâneo que, em meio às crises do individualismo, precisa de um modelo de generosidade, altruísmo e sinceridade na ação. Uma sociedade na qual o sacrifício por Deus se torna uma cultura é uma sociedade divina, humana e cheia de segurança, bondade e justiça.
Em tal sociedade, não apenas a pobreza material, mas também a pobreza espiritual, é reduzida. Cada ser humano, ao compreender sua responsabilidade para com os outros, é transformado de um mero consumidor em um doador ativo. Esta sociedade será um exemplo de "وَ یُؤْثِرُونَ عَلی أَنْفُسِهِمْ وَ لَوْ کانَ بِهِمْ خَصاصَةٌ" (Al-Hashr/9) (Eles dão preferência a outros em detrimento de si mesmos, mesmo quando estão em necessidade), e este é o espírito do monoteísmo em ação: a servidão a Deus através do serviço aos Seus servos.
O Sacrifício em Todas as Gerações
Agora, a pergunta importante é: como educar uma geração que seja dedicada, altruísta e sincera no serviço? Se tomarmos o serviço aos outros da fonte da fé e do amor divino, então essa cultura se torna transferível e sustentável. Para este propósito, vários princípios-chave podem ser propostos como estratégias educacionais eficazes:
- Exemplos práticos: As crianças aprendem mais com o comportamento dos adultos do que com suas palavras; portanto, devemos mostrar o serviço por meio de nossas ações.
- Transformar o serviço em um valor, não em um investimento: O serviço não deve ser apresentado apenas para lucro, mas deve ser considerado adoração, mesmo sem qualquer retorno.
- Ensinar o significado do serviço: Devemos fazer com que as crianças compreendam que o serviço é uma forma de adoração a Deus e tem suas raízes na crença monoteísta.
- Valorizar os servidores na sociedade: Se os servidores, em vez de pessoas famosas, se tornarem os modelos da sociedade, a orientação das crianças também mudará.
- Educar para o serviço desinteressado: As crianças devem ser apresentadas à intenção pura e ensinadas a servir sem esperar gratidão.
- Educação gradual e adequada à idade: Através de métodos como jogos e histórias, as crianças podem ser gradualmente levadas a compreender conceitos profundos.
- Educação que combina razão e emoção: A combinação da razão com experiências emocionais, como ver a alegria de uma pessoa necessitada, tem um impacto profundo na criança.
- Continuidade na ação: Hábitos pequenos, mas contínuos, como trabalhos de caridade periódicos, têm um impacto educacional maior.
- Evitar o individualismo religioso: Se vemos a religião apenas para a nossa própria salvação, as crianças também aprenderão o serviço de forma egocêntrica; enquanto a religião é um convite ao altruísmo.
- Lembrar da recompensa na vida futura sem condicionamento: Incentivar o serviço lembrando das recompensas divinas é bom, mas o serviço não deve ser transformado em uma transação.
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