14 dezembro 2025 - 09:21
Recomendações religiosas para a melhoria da cultura de dirigir

Sentar-se ao volante não é apenas um ato mecânico; é uma experiência que se repete diariamente, carregada de estresse, riscos e responsabilidades. No entanto, os princípios éticos do Alcorão podem transformar nossa visão sobre a direção — de uma ação meramente técnica para uma oportunidade de exercitar a paciência, a cortesia e a responsabilidade. Neste artigo, analisamos como as orientações morais da religião podem elevar nossa cultura de direção e tornar as estradas mais seguras e humanas.

ABNA Brasil: A maneira como dirigimos é um espelho do nosso caráter interior. O Alcorão Sagrado, ao descrever os servos especiais de Deus (‘Ibād al-Raḥmān), afirma:
﴿يَمْشُونَ عَلَى الْأَرْضِ هَوْنًا﴾ (Al-Furqān, 63)
“Eles caminham pela terra com serenidade e humildade.”

Esse princípio não se limita ao ato de caminhar a pé, mas abrange toda forma de movimento, inclusive a condução de um veículo. A direção agressiva, as manobras perigosas e a postura arrogante no trânsito são sinais claros de que a pessoa se esqueceu de sua condição de servo de Deus. Pessoas maduras e conscientes agem com calma e dignidade. Essa humildade prática é o primeiro passo para o cumprimento dos deveres religiosos no trânsito.


A vigilância divina: mais precisa do que as câmeras da polícia

Todos nós, ao ver uma câmera de controle de velocidade, instintivamente retiramos o pé do acelerador. No entanto, frequentemente esquecemos que estamos sob vigilância de “câmeras” muito mais precisas e permanentes: as câmeras de Deus. Enquanto tememos a multa policial, negligenciamos a vigilância divina. O Alcorão nos recorda que nenhum movimento está oculto aos olhos de Deus.

Algumas dessas “câmeras” divinas mencionadas no Alcorão incluem:

  • ﴿إِنَّ رَبَّكَ لَبِالْمِرْصَادِ﴾ (Al-Fajr, 14)
    “Por certo, teu Senhor está sempre em observação.”
    Uma vigilância que nunca se desliga e não requer manutenção.
  • ﴿أَسْمَعُ وَأَرَى﴾ (Al-Baqarah, 77)
    “Eu ouço e vejo.”
    A buzina desnecessária ou a palavra dita em voz baixa — tudo é ouvido.
  • ﴿أَلَمْ يَعْلَمْ بِأَنَّ اللَّهَ يَرَى﴾ (Al-‘Alaq, 14)
    “Acaso ele não sabe que Deus vê?”
    Um alerta direto à consciência no momento da infração.
  • ﴿يَعْلَمُ خَائِنَةَ الْأَعْيُنِ﴾ (Ghāfir, 19)
    “Ele conhece os olhares traiçoeiros.”
    Até mesmo o olhar de desprezo lançado ao outro motorista é registrado.
  • ﴿تَشْهَدُ عَلَيْهِمْ أَيْدِيهِمْ وَأَرْجُلُهُمْ﴾ (Fuṣṣilat, 20)
    “Suas mãos e pés testemunharão contra eles.”
    A mão que gira o volante com raiva e o pé que pressiona o acelerador sem limite.
  • ﴿يَوْمَئِذٍ تُحَدِّثُ أَخْبَارَهَا﴾ (Az-Zalzalah, 4)
    “Nesse dia, a terra relatará suas notícias.”
    Até o asfalto marcado por manobras imprudentes dará testemunho.

A diferença fundamental é esta: a câmera policial registra apenas a aparência da infração, enquanto a vigilância divina alcança a intenção interior e a profundidade do coração
﴿عَلِيمٌ بِذَاتِ الصُّدُورِ﴾ — “Ele conhece o íntimo dos corações.”


As consequências de um acidente: uma cadeia de destruição social e econômica

Os números são alarmantes. No Irã, cerca de 20 mil pessoas perdem a vida anualmente em acidentes de trânsito. Mas isso é apenas a ponta do iceberg. O custo real de um acidente vai muito além de estatísticas.

Cada vítima fatal deixa, em média, três familiares diretos — o que significa 60 mil pessoas diretamente enlutadas. Além disso, cada indivíduo possui cerca de dez familiares próximos, ampliando o impacto do sofrimento para aproximadamente 200 mil pessoas.

Essa cadeia de destruição inclui ainda:

  • Custos elevados com fisioterapia e reabilitação de milhares de feridos e pessoas com deficiência permanente;
  • Impactos psicológicos e sociais nas famílias: depressão, ansiedade e desestruturação familiar;
  • Perda de capital humano e força produtiva;
  • Custos judiciais, processos longos e encarceramento;
  • Surgimento de problemas sociais como crianças em situação de rua, após a perda do provedor familiar.

Os recursos gastos para reparar danos causados por imprudência no trânsito poderiam ser utilizados para construir mesquitas, escolas, clínicas e centros esportivos, promovendo o progresso da sociedade.


Prejudicar as pessoas com estacionamento em fila dupla e congestionamentos

Estacionar em fila dupla, além de ser ilegal e passível de multa, causa transtornos, congestionamentos e perda de tempo para os outros, configurando moralmente uma forma de agressão ao próximo. Quem comete tal ato é moralmente responsável por reparar o dano e buscar o consentimento dos prejudicados.

O Profeta Muhammad (s) disse:
“Aquele que obstrui a passagem das pessoas está afastado da misericórdia de Deus.” (1)

O Imam Zayn al-‘Ābidīn (as) afirmou:
“Entre os pecados que levam à destruição rápida do ser humano está bloquear o caminho dos muçulmanos.” (2)


Respeito à dignidade humana durante a direção

Outro comportamento antiético observado no trânsito é o uso de palavrões e insultos. Alguns motoristas xingam outros, tenham eles cometido infração ou apenas dirijam com cautela. Em qualquer circunstância, ninguém tem o direito de insultar outra pessoa. A linguagem ofensiva é moralmente condenável e profundamente reprovável.

O Alcorão diz:
﴿وَإِذَا مَرُّوا بِاللَّغْوِ مَرُّوا كِرَامًا﴾ (Al-Furqān, 72)
“E quando passam por atitudes fúteis, passam com dignidade.”

O Profeta Muhammad (s) também afirmou:
“Deus proibiu o Paraíso a todo aquele que é grosseiro, insultuoso e sem pudor, que não se importa com o que diz ou ouve.”


Conclusão

Dirigir não é apenas um ato mecânico, mas um exercício contínuo de ética e responsabilidade moral. Todo motorista é responsável por evitar causar danos, poluição sonora, transtornos ou qualquer comportamento antiético. Essa responsabilidade vai além das leis de trânsito e tem raízes profundas nos princípios religiosos e morais.

Ao observar esses valores, a direção deixa de ser apenas uma ação técnica e se transforma em uma prática de honestidade, autocontrole e respeito humano.


Notas

  1. Al-Kāfī, vol. 2, p. 292
  2. Ma‘ānī al-Akhbār, p. 271

Fontes

  • Portal Dars-hāyī az Qur’ān
  • Portal Farhang va Ma‘ārif-e Qur’ān
  • Revista Ma‘rifat-e Akhlāqī

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