ABNA Brasil: A maneira como dirigimos é um espelho do nosso caráter interior. O Alcorão Sagrado, ao descrever os servos especiais de Deus (‘Ibād al-Raḥmān), afirma:
﴿يَمْشُونَ عَلَى الْأَرْضِ هَوْنًا﴾ (Al-Furqān, 63)
— “Eles caminham pela terra com serenidade e humildade.”
Esse princípio não se limita ao ato de caminhar a pé, mas abrange toda forma de movimento, inclusive a condução de um veículo. A direção agressiva, as manobras perigosas e a postura arrogante no trânsito são sinais claros de que a pessoa se esqueceu de sua condição de servo de Deus. Pessoas maduras e conscientes agem com calma e dignidade. Essa humildade prática é o primeiro passo para o cumprimento dos deveres religiosos no trânsito.
A vigilância divina: mais precisa do que as câmeras da polícia
Todos nós, ao ver uma câmera de controle de velocidade, instintivamente retiramos o pé do acelerador. No entanto, frequentemente esquecemos que estamos sob vigilância de “câmeras” muito mais precisas e permanentes: as câmeras de Deus. Enquanto tememos a multa policial, negligenciamos a vigilância divina. O Alcorão nos recorda que nenhum movimento está oculto aos olhos de Deus.
Algumas dessas “câmeras” divinas mencionadas no Alcorão incluem:
- ﴿إِنَّ رَبَّكَ لَبِالْمِرْصَادِ﴾ (Al-Fajr, 14)
“Por certo, teu Senhor está sempre em observação.”
Uma vigilância que nunca se desliga e não requer manutenção. - ﴿أَسْمَعُ وَأَرَى﴾ (Al-Baqarah, 77)
“Eu ouço e vejo.”
A buzina desnecessária ou a palavra dita em voz baixa — tudo é ouvido. - ﴿أَلَمْ يَعْلَمْ بِأَنَّ اللَّهَ يَرَى﴾ (Al-‘Alaq, 14)
“Acaso ele não sabe que Deus vê?”
Um alerta direto à consciência no momento da infração. - ﴿يَعْلَمُ خَائِنَةَ الْأَعْيُنِ﴾ (Ghāfir, 19)
“Ele conhece os olhares traiçoeiros.”
Até mesmo o olhar de desprezo lançado ao outro motorista é registrado. - ﴿تَشْهَدُ عَلَيْهِمْ أَيْدِيهِمْ وَأَرْجُلُهُمْ﴾ (Fuṣṣilat, 20)
“Suas mãos e pés testemunharão contra eles.”
A mão que gira o volante com raiva e o pé que pressiona o acelerador sem limite. - ﴿يَوْمَئِذٍ تُحَدِّثُ أَخْبَارَهَا﴾ (Az-Zalzalah, 4)
“Nesse dia, a terra relatará suas notícias.”
Até o asfalto marcado por manobras imprudentes dará testemunho.
A diferença fundamental é esta: a câmera policial registra apenas a aparência da infração, enquanto a vigilância divina alcança a intenção interior e a profundidade do coração
﴿عَلِيمٌ بِذَاتِ الصُّدُورِ﴾ — “Ele conhece o íntimo dos corações.”
As consequências de um acidente: uma cadeia de destruição social e econômica
Os números são alarmantes. No Irã, cerca de 20 mil pessoas perdem a vida anualmente em acidentes de trânsito. Mas isso é apenas a ponta do iceberg. O custo real de um acidente vai muito além de estatísticas.
Cada vítima fatal deixa, em média, três familiares diretos — o que significa 60 mil pessoas diretamente enlutadas. Além disso, cada indivíduo possui cerca de dez familiares próximos, ampliando o impacto do sofrimento para aproximadamente 200 mil pessoas.
Essa cadeia de destruição inclui ainda:
- Custos elevados com fisioterapia e reabilitação de milhares de feridos e pessoas com deficiência permanente;
- Impactos psicológicos e sociais nas famílias: depressão, ansiedade e desestruturação familiar;
- Perda de capital humano e força produtiva;
- Custos judiciais, processos longos e encarceramento;
- Surgimento de problemas sociais como crianças em situação de rua, após a perda do provedor familiar.
Os recursos gastos para reparar danos causados por imprudência no trânsito poderiam ser utilizados para construir mesquitas, escolas, clínicas e centros esportivos, promovendo o progresso da sociedade.
Prejudicar as pessoas com estacionamento em fila dupla e congestionamentos
Estacionar em fila dupla, além de ser ilegal e passível de multa, causa transtornos, congestionamentos e perda de tempo para os outros, configurando moralmente uma forma de agressão ao próximo. Quem comete tal ato é moralmente responsável por reparar o dano e buscar o consentimento dos prejudicados.
O Profeta Muhammad (s) disse:
“Aquele que obstrui a passagem das pessoas está afastado da misericórdia de Deus.” (1)
O Imam Zayn al-‘Ābidīn (as) afirmou:
“Entre os pecados que levam à destruição rápida do ser humano está bloquear o caminho dos muçulmanos.” (2)
Respeito à dignidade humana durante a direção
Outro comportamento antiético observado no trânsito é o uso de palavrões e insultos. Alguns motoristas xingam outros, tenham eles cometido infração ou apenas dirijam com cautela. Em qualquer circunstância, ninguém tem o direito de insultar outra pessoa. A linguagem ofensiva é moralmente condenável e profundamente reprovável.
O Alcorão diz:
﴿وَإِذَا مَرُّوا بِاللَّغْوِ مَرُّوا كِرَامًا﴾ (Al-Furqān, 72)
— “E quando passam por atitudes fúteis, passam com dignidade.”
O Profeta Muhammad (s) também afirmou:
“Deus proibiu o Paraíso a todo aquele que é grosseiro, insultuoso e sem pudor, que não se importa com o que diz ou ouve.”
Conclusão
Dirigir não é apenas um ato mecânico, mas um exercício contínuo de ética e responsabilidade moral. Todo motorista é responsável por evitar causar danos, poluição sonora, transtornos ou qualquer comportamento antiético. Essa responsabilidade vai além das leis de trânsito e tem raízes profundas nos princípios religiosos e morais.
Ao observar esses valores, a direção deixa de ser apenas uma ação técnica e se transforma em uma prática de honestidade, autocontrole e respeito humano.
Notas
- Al-Kāfī, vol. 2, p. 292
- Ma‘ānī al-Akhbār, p. 271
Fontes
- Portal Dars-hāyī az Qur’ān
- Portal Farhang va Ma‘ārif-e Qur’ān
- Revista Ma‘rifat-e Akhlāqī
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