ABNA brasil: De quem está realmente nas mãos o sustento (rizq)? Do ponto de vista do monoteísmo, tudo está nas mãos de Deus; porém, na vida cotidiana, parece que são as pessoas que determinam o sustento umas das outras: o trabalhador depende do empregador, o funcionário do Estado e o filho dos pais. Então, qual é a realidade do assunto? Qual é a visão correta e profunda sobre isso?
“Rizq” significa, em sua origem, dádiva e porção que chega ao ser humano (1) e não se limita apenas a alimento e vestimenta; pelo contrário, tudo aquilo de que o ser humano se beneficia — como conhecimento, dignidade, honra e orientação — também é considerado parte do sustento. (2) Do ponto de vista religioso, Deus não é apenas o Criador do mundo, mas também o verdadeiro Provedor de todas as criaturas.
O Alcorão enfatiza repetidamente essa verdade: “Certamente, Deus é o Provedor, o Possuidor da força, o Inabalável” (3) e “Existe algum criador além de Deus que vos conceda sustento do céu e da terra?” (4). Contudo, em outros versículos, os seres humanos também são apresentados como provedores, como o pai que é responsável por garantir as despesas e o alimento da mãe durante o período de amamentação. (5) Essas duas atribuições do sustento, embora aparentemente diferentes, na realidade são harmoniosas. (6)
Primeiro ponto: a visão monoteísta
Na visão monoteísta, Deus não é apenas o Criador do mundo, mas também o Administrador de todos os seus assuntos. Ao longo da história, alguns imaginaram que Deus criou o mundo e depois delegou a sua administração a forças como anjos, corpos celestes ou outros seres; porém, o Alcorão Sagrado rejeita claramente essa ideia ao afirmar: “Ele é Quem dirige os assuntos.” (7) Portanto, todos os fluxos da existência — desde o movimento das estrelas até a provisão do sustento aos servos — ocorrem sob a vontade divina. A provisão do sustento faz parte dessa mesma soberania e administração divina. Se alguém imaginar que outro concede sustento de forma independente, na verdade estará atribuindo a Deus um parceiro no âmbito da soberania. Assim, crer no monoteísmo da soberania significa acreditar que somente Deus é o verdadeiro Provedor e o Administrador absoluto da existência.
Segundo ponto: o sistema hierárquico das causas
Na cosmovisão monoteísta, nenhum ser no mundo atua de forma independente; assim como a existência de cada ser depende de Deus, também o seu efeito e a sua ação só se realizam com a permissão e a vontade divinas. Esse princípio é chamado de “monoteísmo nos atos”. Todas as causas e meios são elos de uma cadeia hierárquica que, por fim, se conecta a Deus, a Causa das causas da existência.
O pai, o empregador ou o Estado, embora aparentemente sejam provedores de sustento, na realidade são intermediários no caminho do sustento divino. Assim, o ato humano de prover sustento não está em paralelo à vontade de Deus, mas sim em sua continuidade. Da mesma forma que a lua reflete a luz do sol, o ser humano transmite um raio da generosidade da provisão divina. Nesse sentido, Deus é o Provedor por essência, e os outros são provedores por meio Dele; isto é, aquilo que chega pelas mãos dos servos é uma manifestação do sustento de Deus que, por meio deles, alcança os demais. (8)
Conclusão
Nessa perspectiva, o único Provedor verdadeiro é “Deus”; porém, a Sua tradição consiste em fazer com que o sustento humano seja alcançado por meio de causas naturais e de esforços individuais e sociais. A compreensão correta dessa verdade traz dois resultados valiosos: primeiro, gera tranquilidade e segurança no coração do ser humano, pois ele sabe que o seu sustento está nas mãos de Deus e que ninguém pode, de forma independente, diminuí-lo ou aumentá-lo.
Essa crença fortalece a confiança em Deus (tawakkul) e elimina a dependência de outros além Dele. Segundo, essa visão não afasta o ser humano do esforço; ao contrário, convida-o ao empenho, à responsabilidade e à ajuda ao próximo, pois Deus quis que o sustento fluísse justamente por meio desses esforços. Assim, quem trabalha para sua família ou para a sociedade é, na verdade, um intermediário para a transmissão da misericórdia divina. A visão monoteísta é a conciliação entre confiança em Deus e esforço: uma perspectiva que reconhece tanto as causas naturais quanto a sua fonte principal, que é Deus. (9)
Notas:
- Raghb Isfahani, Hussein ibn Muhammad, Mufradat Alfaz al-Qur’an, Beirute, Dar al-Qalam, 1412 H., p. 351.
- Javadi Amoli, Abdullah, Tasnīm, pesquisa de Ali Eslami e Abdolkarim Abedini, Qom, Esra, 1389 H.Sh., vol. 13, p. 600; Ibn Manzur, Muhammad ibn Makram, Lisan al-‘Arab, Beirute, Dar Sader, 1414 H., vol. 10, p. 115.
- Surata Adh-Dhariyat, versículo 58: «إِنَّ اللَّهَ هُوَ الرَّزَّاقُ ذُو الْقُوَّهِ الْمَتِینُ».
- Surata Fatir, versículo 3: «هَلْ مِنْ خَالِقٍ غَیْرُ اللَّهِ یَرْزُقُکُمْ مِنَ السَّمَاءِ وَالْأَرْضِ...».
- Surata An-Nisa, versículo 5: «وَارْزُقُوهُمْ فِیهَا وَاکْسُوهُمْ...».
- Javadi Amoli, Abdullah, Tafsīr Mawdu‘i do Alcorão Sagrado – O Monoteísmo no Alcorão, Qom, Esra, 1383 H.Sh., pp. 430–432.
- Surata Ar-Ra‘d, versículo 2: «یُدَبِّرُ الْأَمْرَ...».
- Subhani, Ja‘far, Fundamentos do Monoteísmo segundo o Alcorão, Qom, Tawhid, 1361 H.Sh., pp. 146–247.
- Para mais estudos, ver: Salavati, Azam e outros, Análise dos fundamentos do monoteísmo na provisão do sustento, Revista Pesquisa Religiosa, primavera e verão de 1401 H.Sh., nº 44, pp. 239–254.
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