16 dezembro 2025 - 09:16
A realidade do “amargo e do doce” do mundo à luz dos versículos divinos

O Alcorão Sagrado apresenta a vida terrena, com beleza e profundidade existencial, como uma combinação de “amargo” (dificuldades e provações) e “doce” (bênçãos e confortos), extraindo desse contraste muitas lições e ensinamentos para o ser humano. Esses ensinamentos são vitais não apenas para compreender a natureza do mundo, mas também para orientar o ser humano no caminho da vida e prepará-lo para a outra vida.

ABNA Brasil: O Alcorão Sagrado descreve a vida neste mundo, de forma bela e profunda, como uma combinação de “amargo” (dificuldades e provações) e “doce” (bênçãos e tranquilidades), e, a partir desse contraste, oferece ao ser humano muitas lições e reflexões. Esses ensinamentos são essenciais não apenas para compreender a realidade do mundo, mas também para orientar o ser humano no percurso da vida e prepará-lo para o Além.

1. O mundo como passagem de prova

O Alcorão afirma claramente que o mundo é uma passagem de prova para o ser humano. Deus Altíssimo testa o ser humano tanto com o “amargo” quanto com o “doce”, para avaliar o grau de gratidão nas bênçãos e de paciência nas adversidades.

«وَلَنَبْلُوَنَّکُم بِشَیْءٍ مِّنَ الْخَوْفِ وَالْجُوعِ وَنَقْصٍ مِّنَ الْأَمْوَالِ وَالْأَنفُسِ وَالثَّمَرَاتِ وَبَشِّرِ الصَّابِرِینَ» (1)

Este versículo deixa claro que o medo, a fome, a diminuição de bens, vidas e frutos (os “amargos” da vida) fazem parte da prova divina. Em seguida, anuncia boas-novas aos pacientes, o que indica o “doce” da recompensa e da misericórdia divina após a paciência. Esse contraste ensina ao ser humano que nenhum desses estados é permanente e que ambos são oportunidades de crescimento e de obtenção de recompensa.

«الَّذِی خَلَقَ الْمَوْتَ وَالْحَیَاةَ لِیَبْلُوَکُمْ أَیُّکُمْ أَحْسَنُ عَمَلًا» (2)

A morte (amargo) e a vida (doce) foram criadas para testar o ser humano quanto à excelência de suas ações. Esse versículo mostra que até mesmo a existência e a não-existência — talvez os maiores “doces” e “amargos” — estão lado a lado em função de um objetivo mais elevado: a prática das boas ações.

2. O mundo como bem efêmero e enganador

O Alcorão Sagrado descreve os “doces” do mundo (riqueza, poder, beleza etc.) como um bem pequeno e enganador, alertando o ser humano para não se apegar às aparências.

«کُلُّ نَفْسٍ ذَائِقَةُ الْمَوْتِ وَإِنَّمَا تُوَفَّوْنَ أُجُورَکُمْ یَوْمَ الْقِیَامَةِ فَمَن زُحْزِحَ عَنِ النَّارِ وَأُدْخِلَ الْجَنَّةَ فَقَدْ فَازَ وَمَا الْحَیَاةُ الدُّنْیَا إِلَّا مَتَاعُ الْغُرُورِ» (3)

Os “doces” da vida mundana são apenas um prazer enganoso, enquanto o “amargo” da morte é inevitável. Esse versículo recorda ao ser humano que não se apegue às aparências do mundo, pois o fim de todas elas é a morte, e o verdadeiro “doce” (a salvação e o Paraíso) vem após suportar os “amargos” e agir corretamente neste mundo.

3. Gratidão nas bênçãos e paciência nas provações

Uma das principais lições do convívio entre “amargo” e “doce” é a necessidade de gratidão nas bênçãos e paciência nas provações.

«لَئِن شَکَرْتُمْ لَأَزِیدَنَّکُمْ وَلَئِن کَفَرْتُمْ إِنَّ عَذَابِی لَشَدِیدٌ» (4)

Os “doces” da vida exigem gratidão, e a ingratidão traz consigo o “amargo” do castigo. Esse versículo mostra como a reação do ser humano às bênçãos pode resultar em mais “doces” (aumento das graças) ou em “amargos” maiores (castigo severo).

«إِلَّا الَّذِینَ آمَنُوا وَعَمِلُوا الصَّالِحَاتِ وَتَوَاصَوْا بِالْحَقِّ وَتَوَاصَوْا بِالصَّبْرِ» (5)

Na vida mundana, repleta de “amargos” e “doces”, somente são bem-sucedidos aqueles que creem, praticam boas ações e recomendam uns aos outros a verdade (inclusive o uso correto dos “doces” e a aceitação dos “amargos”) e a paciência (diante dos “amargos”).

4. O destino dos piedosos e dos descrentes

O Alcorão expõe claramente o destino final dos piedosos — que são pacientes diante dos “amargos” e gratos diante dos “doces” — e dos descrentes — que se tornam arrogantes com os “doces” e impacientes diante dos “amargos”.

«وَمَنْ أَعْرَضَ عَن ذِکْرِی فَإِنَّ لَهُ مَعِیشَةً ضَنکًا وَنَحْشُرُهُ یَوْمَ الْقِیَامَةِ أَعْمَیٰ ... قَالَ رَبِّ لِمَ حَشَرْتَنِی أَعْمَیٰ وَقَدْ کُنتُ بَصِیرًا» (6)

Quem se afasta da lembrança de Deus terá uma vida estreita e difícil (amargo), mesmo que, em aparência, desfrute dos “doces” do mundo. Esse versículo mostra como o afastamento da lembrança de Deus transforma os “doces” aparentes do mundo em “amargos” interiores e em castigo na outra vida.

Esses versículos ilustram bem o contraste: quando Deus concede ao ser humano um “doce” (bênção), ele diz: “Meu Senhor me honrou”; e quando lhe envia um “amargo” (provação), ele diz: “Meu Senhor me humilhou”. O Alcorão critica essa forma de pensar e ensina que ambas as situações são provas divinas, não sinais de honra ou de humilhação.

Os versículos do Alcorão Sagrado, com sutileza e profundidade, apresentam a realidade do mundo como uma combinação de “amargo” e “doce” para testar o ser humano. A lição desse convívio é que:

  • O mundo é transitório, e não se deve apegar nem aos seus “amargos” nem aos seus “doces”.
  • O objetivo dos “amargos” e “doces” é testar o ser humano e oferecer oportunidades de crescimento e recompensa na outra vida.
  • A reação correta aos “amargos” é a paciência e a perseverança, e a reação correta aos “doces” é a gratidão e o uso adequado no caminho de Deus.
  • O destino final dos virtuosos e dos maus será determinado pela forma como lidam com esses “amargos” e “doces”.

Esses ensinamentos ajudam o ser humano a olhar para a vida mundana de maneira monoteísta e realista e a não perder de vista o objetivo principal de sua criação nesse caminho repleto de altos e baixos.


Notas:

  1. Surata Al-Baqarah, versículo 155
  2. Surata Al-Mulk, versículo 2
  3. Surata Al-‘Imran, versículo 185
  4. Surata Ibrahim, versículo 7
  5. Surata Al-‘Asr, versículos 2 e 3
  6. Surata Taha, versículos 124 e 125

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