Os versículos 26 a 38 da Sura Maryam são partes instigantes do Alcorão Sagrado que abordam a vida da Virgem Maria e o nascimento milagroso de Jesus (A.S.). Estes versículos, ao narrarem a história do nascimento de Jesus e a reação das pessoas, mostram um confronto entre a Verdade (Ḥaqq) e a Falsidade (Bāṭil). Através de uma análise destas passagens, é possível extrair dimensões importantes do conhecimento do inimigo (dušman-šenāsī) nos âmbitos intelectual, ideológico e social, pois, no cerne desta história, a face dos inimigos da Verdade e a sua reação à Mensagem Divina são claramente reveladas.
O Cenário do Nascimento e o Início do Conflito
No versículo 26, Deus instrui Maria a fazer um voto de silêncio após o nascimento de seu filho, e a dizer a qualquer pessoa que perguntasse que não falaria com ninguém. Este comando divino é uma forma de tática contra a onda de acusações e inimizade social. A sociedade em que Maria vivia julgava pelas aparências e não estava preparada para compreender um milagre.
- O Primeiro Rosto do Inimigo: A inimizade inconsciente e os julgamentos superficiais do povo. Nesta fase, os inimigos vêm lutar contra a Verdade não com espadas, mas com línguas, calúnias e acusações.
A Inimizade Baseada no Fanatismo e no Exteriorismo
Nos versículos 27 e 28, quando Maria aparece perante o seu povo com o recém-nascido, eles a abordam com um tom áspero e de censura: "Ó Maria, tu fizeste algo muito feio! Ó irmã de Aarão, teu pai não era um homem mau, nem tua mãe era promíscua!" Esta fala revela uma inimizade enraizada no fanatismo e no exteriorismo. Em vez de ponderar o porquê deste evento e a possibilidade de um milagre, o povo a condena baseando-se nas suas tradições e preconceitos.
- O Segundo Rosto do Inimigo: Não é um estranho externo, mas a mentalidade fechada e o fanatismo interno da sociedade. Este tipo de inimizade sufoca a Verdade no nascedouro e impede que a Luz Divina se manifeste.
A Fala do Recém-Nascido e a Exposição dos Inimigos
No versículo 29, Maria simplesmente aponta para o bebé, e as pessoas perguntam, perplexas, como poderiam falar com uma criança no berço. Os versículos 30 a 33 respondem a este espanto: o bebé, o Profeta Jesus, fala e se apresenta como Servo de Deus. Ele diz que Deus lhe concedeu o Livro, fez dele um Profeta, tornou-o abençoado onde quer que esteja e o ordenou à oração e ao Zakāt (caridade) enquanto estiver vivo.
Esta fala revela a Verdade e cumpre o argumento divino contra as calúnias e inimizades. Nesta fase, os inimigos são confrontados com um milagre evidente que desmascara os seus planos. No entanto, a inimizade profundamente enraizada, em vez de se render, segue o caminho da negação e da distorção.
A Inimizade Intelectual e a Distorção da Verdade 💡
A partir do versículo 34, o Alcorão fala de um estágio mais avançado: a distorção e o desvio ideológico após Jesus. Ele afirma: "Este é Jesus, filho de Maria, a Palavra de Verdade sobre a qual eles discordam." Em seguida, acrescenta que Deus não tomou para Si um filho e está isento de tais atribuições.
- O Terceiro Rosto do Inimigo: A inimizade ideológica e intelectual. Desta vez, os inimigos não lutam com espadas ou palavras de calúnia, mas sim através da deturpação dos pensamentos e da alteração da verdadeira Mensagem. Eles transformaram a imagem de Jesus de um Profeta monoteísta para um falso deus, a fim de alcançar benefícios mundanos ou consolidar a sua posição religiosa. Esta é a forma mais perigosa de inimizade, pois ocorre de dentro da religião e encobre a Verdade com a capa da fé e da santidade.
Consequências da Inimizade Contra a Verdade
No versículo 37, Deus refere-se à discórdia entre as seitas após a vinda de Jesus e adverte: "Ai dos incrédulos pela presença no Grande Dia!" Este aviso tem uma mensagem clara para todas as épocas: a inimizade contra a Verdade, seja por ignorância ou deliberadamente, só tem um fim: a destruição. Os inimigos de Jesus, em vez de seguir a sua clara afirmação de Servidão a Deus, escolheram o caminho da incredulidade e da divisão. É a Lei Divina que, sempre que um grupo se levanta em inimizade contra a Verdade, acaba por ser exposto e castigado.
Conclusão e Lições de Conhecimento do Inimigo 🧭
Dos versículos 26 a 38 da Sura Maryam, podemos identificar três tipos de inimigos:
- O Inimigo Inconsciente e Julgador: Que age com base nas aparências.
- O Inimigo Fanático: Que sacrifica a Verdade em nome de costumes e preconceitos.
- O Inimigo Intelectual: Que esvazia a religião por dentro através da distorção e do desvio ideológico.
O Alcorão também aponta os caminhos para enfrentar cada um: paciência e silêncio sábio contra a calúnia, revelação da Verdade através da fala e da conduta divina, e firmeza no monoteísmo contra as distorções.
Estes versículos ensinam-nos que o inimigo nem sempre tem uma face óbvia; às vezes, ele surge sob a forma de um amigo, da sociedade, ou até mesmo de crenças religiosas erradas. O conhecimento do inimigo (dušman-šenāsī), na visão do Alcorão, não é apenas o reconhecimento do opositor, mas sim a distinção do caminho do desvio da senda da Verdade. A lição que aprendemos com Maria e Jesus é que, perante a agressão dos inimigos, devemos confiar na fé, na racionalidade e na confiança em Deus para que a luz da Verdade nunca se apague.
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