ABNA Brasil: No conjunto das boas ações, a esmola e a caridade sempre foram um elo dourado que conecta o servo ao Criador e às criaturas. Contudo, em alguns tempos sagrados, esse ato valioso deixa de ser unidimensional e se transforma em um movimento multifacetado e impactante. O mês de Rajab, como um desses tempos abençoados, oferece um terreno singular para a realização de uma caridade direcionada e abundante em graças. Com base nos ensinamentos da Ahl al-Bayt (a), doar neste mês não é apenas ajudar alguém materialmente necessitado; trata-se de uma intervenção no sistema da misericórdia divina, que coloca o doador em um caminho de bênçãos mundanas e espirituais. Essa boa prática é uma janela luminosa para a abertura de caminhos na vida e para a purificação da alma das impurezas do apego ao mundo.
Os dados das tradições apresentam o primeiro efeito da caridade no mês de Rajab como a proteção contra calamidades e dificuldades. O Imam Ja‘far al-Sadiq (a) diz a esse respeito:
«Quem der uma esmola no mês de Rajab, Deus Altíssimo o protegerá dos males deste mundo e das provações do Além, na medida de um fio de cabelo existente no corpo dos quadrúpedes do Oriente e do Ocidente do mundo.» (1)
Essa afirmação profunda mostra que a caridade rajabiana constrói para a pessoa um escudo protetor com a extensão de toda a existência. Em outra tradição, o efeito desse ato é descrito como o afastamento de uma má morte e a garantia de um bom desfecho. (2) Assim, a caridade nesse mês é considerada uma forma de planejamento para uma morte tranquila e um destino luminoso após este mundo, cujas bênçãos ultrapassam os limites do tempo e do espaço terrenos.
Em outro nível, a caridade do mês de Rajab desempenha um papel central na aceitação das súplicas e na realização das necessidades. Este mês é o mês da invocação e da oração, e a doação prepara melhor o coração para acolher a resposta divina. Algumas tradições enfatizam que a súplica após a caridade é atendida mais rapidamente. (3) Essa conexão revela uma estratégia devocional completa: no mês de Rajab, a pessoa começa purificando o coração de seus apegos materiais por meio da doação, abrindo o caminho para uma relação sincera com o Senhor. Em seguida, faz uma súplica que, por ter surgido de um coração puro e de uma mão generosa, ascende ao reino celestial. Dessa forma, a caridade torna-se a chave para a abertura das portas da aceitação.
Porém, a mais bela manifestação é a garantia do retorno multiplicado da esmola ainda neste mundo. O Imam al-Sadiq (a) afirmou:
«Quem der uma esmola no mês de Rajab, Deus escreverá para ele, em troca de cada grão [da esmola], um milhão de boas ações.» (4)
Esses números extraordinários na palavra do Infallível (a) expressam a grandeza do coeficiente da doação nesse mês. A caridade em Rajab não é diminuição de bens, mas um investimento de lucro abundante perante o Deus Generoso. Esse ato coloca em movimento o ciclo da bênção na vida do indivíduo e da sociedade e trata a pobreza não pela retenção da riqueza, mas por sua circulação no caminho do bem. A caridade rajabiana é, por fim, um grande exercício de libertação da armadilha do “amor ao dinheiro” e de alcance do مقام do “altruísmo”, a mesma virtude que adornava a conduta da Ahl al-Bayt (a).
Notas:
- Shaykh Ṣadūq, Thawāb al-A‘māl wa ‘Iqāb al-A‘māl, capítulo sobre a recompensa da caridade no mês de Rajab, hadith 1.
- ‘Allāmah Majlisī, Bihār al-Anwār, vol. 97, cap. 18, narração 32.
- Muḥammad ibn Ḥasan al-Ḥurr al-‘Āmilī, Wasā’il al-Shī‘a, vol. 6, capítulos da caridade, cap. 6, diversas tradições.
- Shaykh ‘Abbās Qumī, Mafātīḥ al-Jinān, terceira parte, nos atos do mês de Rajab (citado no sentido das tradições).
- Ibn Ṭāwūs, al-Iqbāl bi al-A‘māl al-Ḥasana, vol. 2, capítulo relativo às virtudes e atos do mês de Rajab.
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