5 novembro 2025 - 11:14
Piedade Digital (Taqwā Digital): A Necessidade da Fé na Era Virtual

Com a expansão da presença humana nas redes sociais, a fronteira entre a realidade e o virtual tornou-se ténue. Neste meio, a ética islâmica pode ser uma luz orientadora para garantir que as comunicações online não se desviem do caminho da dignidade humana e da sinceridade da fé. O mundo do zero e um (digital) é também um campo de adoração, se o crente for cuidadoso com a sua língua e os seus dedos.

ABNA Brasil: No mundo de hoje, a fronteira entre a presença real e a virtual desapareceu. O ser humano do século XXI vive mais do que nunca numa rede de comunicações invisíveis; um mundo onde as palavras são transmitidas à velocidade da luz e uma frase ou imagem pode moldar a mente de milhões de pessoas em segundos. Nestas circunstâncias, falar sobre a “ética islâmica nas comunicações online” já não é uma recomendação ornamental, mas sim uma necessidade para preservar a dignidade humana e a saúde da comunidade crente.

O Alcorão Sagrado refere-se repetidamente à língua e à fala como o fator de construção ou destruição das relações humanas: «وَقُولُوا لِلنّاسِ حُسْناً» (Al-Baqarah/83); “Falai bem às pessoas”. O espaço virtual é uma extensão desta “fala”, com a diferença de que os seus públicos são incontáveis e os seus efeitos mais duradouros. Cada palavra, cada post, cada republicação, equivale a um discurso que saiu da boca e não pode ser retirado. Portanto, o mesmo cuidado que a religião exige da língua, hoje deve ser exigido também dos “nossos dedos”.

A difamação em grupos virtuais, a calúnia sob a forma de análise ou notícia, o ridículo e a humilhação na secção de comentários, e a republicação de material sem fonte são exemplos de deslizes que podem facilmente destruir a reputação das pessoas e magoar corações. O Mensageiro de Deus (S.A.W.) disse: “Kafā bi’l-mar’i kadhiban an yaḥduth bi-kulli mā sami‘a”; Basta que alguém seja considerado mentiroso pelo facto de relatar tudo o que ouve. Hoje, quando o ciberespaço está cheio de notícias e análises sem fonte, esta fala do Profeta (S.A.W.) lembra-nos mais do que nunca que a republicação sem ponderação pode fazer-nos ultrapassar o limite da sinceridade.

Por outro lado, um dos desafios éticos importantes da era digital é a violação da privacidade e a espionagem na vida dos outros. O Alcorão Sagrado afirma claramente: وَلَا تَجَسَّسُوا” (Al-Ḥujurāt/12). Republicar fotos e mensagens pessoais de outros sem consentimento, ou julgar indivíduos com base na sua aparência virtual, são exemplos desta proibição divina. A ética islâmica enfatiza a dignidade inerente do ser humano; uma dignidade que não deve ser sacrificada, mesmo no espaço virtual, por emoção, curiosidade ou competição mediática.

Hoje, cada utilizador é um órgão de comunicação social, e cada conta de utilizador pode influenciar dezenas de milhares de pessoas. Este poder sem precedentes impõe uma pesada responsabilidade sobre os utilizadores crentes. No passado, apenas jornalistas ou pregadores eram responsáveis pela divulgação das suas palavras, mas na era das redes sociais, cada clique e cada republicação é uma espécie de assinatura sobre a verdade ou a mentira. O crente é aquele que sabe que, mesmo na solidão virtual, os anjos também estão online e registando as suas ações.

O Islão é uma religião que não limita a ética ao momento da presença na mesquita; a ética islâmica deve ser vista também nas mensagens, nos posts, nos likes e nos comentários. Se a nossa fé não se refletir no nosso comportamento digital, perdemos parte do significado da adoração. A presença nas redes sociais pode ser uma oportunidade para promover o bem, a esperança e a sinceridade, com a condição de termos cuidado para que a ferramenta de comunicação não nos afaste do espírito da relação humana.

Num mundo onde os algoritmos analisam o nosso comportamento, talvez seja tempo de corrigir o algoritmo do nosso coração. “Piedade Digital” significa aquela vigilância constante que o Alcorão exige do crente; ou seja, pensar antes de enviar, ter uma intenção pura antes de escrever e abster-se de qualquer palavra que possa macular a reputação. Num mundo onde o conteúdo se espalha à velocidade da luz, talvez a única coisa que deva abrandar seja o dedo do crente no botão de enviar.

Elnāz Mūsavī Yektā Investigadora de Média e Ciberespaço

Tags

Your Comment

You are replying to: .
captcha