1 novembro 2025 - 11:36
Tranquilidade Artificial na Era da Mídia com o Esquecimento da Lembrança de Deus

Numa época em que o ser humano contemporâneo, imerso no clamor da tecnologia e das redes sociais, se distanciou do significado e da tranquilidade interior, o mercado das “espiritualidades falsas” está mais aquecido do que nunca; uma corrente que, sob o lema de tranquilidade e autoconhecimento, afasta o ser humano da lembrança de Deus e da verdade do monoteísmo (Tawhīd). Esta nota visa analisar, com base nos ensinamentos do Alcorão e dos Ahl al-Bayt (A.S.), as raízes da expansão destas espiritualidades fabricadas e os caminhos para regressar à espiritualidade islâmica autêntica na era da mídia.

ABNA Brasil: O mundo de hoje tem mais sede de significado do que nunca. O ser humano contemporâneo, em meio a uma avalanche de dados, entretenimento e redes sociais, sente-se vazio por dentro e recorre a todas as fontes, exceto à fonte da Revelação, em busca de tranquilidade. Neste cenário, um fenómeno conhecido como “espiritualidades falsas” cresceu rapidamente, apresentando-se como substituto da autêntica espiritualidade divina; uma espiritualidade cuja aparência é de calma, mas que, na sua essência, cultiva o vazio e o alienamento.

O Alcorão Sagrado indica claramente o caminho para a verdadeira tranquilidade no versículo 28 da Sūrah Ar-Ra‘d: «أَلا بِذِکْرِ اللَّهِ تَطْمَئِنُّ الْقُلُوبُ»“Atenção: Somente com a lembrança de Deus é que os corações encontram paz.” Esta verdade fundamental contrasta com a onda atual de espiritualidades psicológicas, pseudo-religiosas e comerciais, que, em vez de se focarem na Lembrança de Deus, convidam o ser humano ao “egocentrismo”, à “energia interior” e ao “poder do pensamento”. Enquanto a espiritualidade islâmica se baseia no Monoteísmo (Tawhīd), purificação da alma (Tazkiyah), racionalidade e boas ações, as espiritualidades falsas são construídas sobre sentimentos fugazes e egoísmo individual. Elas apresentam o ser humano como o centro do universo e eliminam Deus da equação da vida. O resultado desta perspetiva é a formação de um tipo de “auto-adoração moderna” que sorri na aparência, mas, na essência, seca a raiz da fé e da servidão (‘ubūdiyyah).

O Islão considera a espiritualidade como algo inerente à razão, à ética e à responsabilidade. O Imam ‘Alī (A.S.) diz: “Aquele que reflete, aprende a lição (‘ibrah); e aquele que aprende a lição, vê; e quando vê, age.” Nesta visão, a espiritualidade não é uma emoção crua nem uma experiência separada do dever, mas sim um caminho para construir um ser humano pensante, perspicaz e ativo.

Mas a pergunta importante é: Por que as espiritualidades falsas se tornaram atraentes na nossa sociedade, especialmente entre os jovens? A resposta deve ser procurada em três fatores: primeiro, a fraqueza em apresentar a bela e prática face da religião; segundo, a crise de significado na vida moderna; e terceiro, a infiltração inteligente dos médias na recriação de modelos falsos de tranquilidade e sucesso. Os médias globais de hoje promovem um tipo de “espiritualidade secular” através do poder da imagem e da narrativa. Em filmes, podcasts e redes sociais, conceitos como “o cosmos”, “energia positiva”, “o mundo interior” e “o poder dos pensamentos” são apresentados como substitutos de Deus e da oração. Muitos recetores, especialmente adolescentes e estudantes, são expostos a uma torrente de conteúdo motivacional que parece calmante, mas que, na sua essência, separa o ser humano da fé, da piedade (taqwā) e da dependência do coração em Deus. Portanto, um dos desafios importantes hoje na área da religião e da cultura é a gestão da relação entre a mídia e a espiritualidade. Se deixarmos o ciberespaço para promover conceitos fabricados, a espiritualidade autêntica permanecerá marginalizada. Deve-se usar esta própria plataforma midiática para reconstruir o discurso da espiritualidade corânica.

A produção de podcasts reflexivos sobre os versículos do Alcorão, documentários de conhecimento sobre a jornada e a conduta dos verdadeiros místicos (‘urafā’), narrativas visuais de vidas crentes, e o desenho de campanhas virtuais sobre “a lembrança de Deus (dhikr) e a boa ação” podem fornecer o caminho para o regresso dos jovens às fontes verdadeiras de tranquilidade. Por outro lado, a produção de conteúdo religioso num formato belo, científico e baseado na experiência deve substituir os discursos secos e distantes. O jovem de hoje precisa de uma linguagem que o compreenda, não apenas que o aconselhe. Se os conhecimentos corânicos e éticos forem apresentados através da linguagem da arte, dos médias e de narrativas reais, o apelo das espiritualidades importadas desaparecerá naturalmente. Outra solução é a formação de instrutores e pregadores familiarizados com o espaço digital. Aquele que não conhece a linguagem da mídia não pode ser influente no campo midiático de hoje.

Tal como o Mensageiro de Deus (S.A.W.) foi encarregado de falar na língua do seu povo: «وَمَا أَرْسَلْنَا مِنْ رَسُولٍ إِلَّا بِلِسَانِ قَوْمِهِ» (Ibrāhīm, 4). Hoje, também os ensinamentos divinos devem ser apresentados na língua da nova geração, em novos formatos e no campo da mídia, para que o apelo da verdadeira espiritualidade se torne claro. Finalmente, deve-se aceitar que a batalha entre a “espiritualidade autêntica” e a “espiritualidade fabricada” é uma batalha cultural e civilizacional. O Ocidente, ao investir em indústrias culturais e midiáticas, procura construir um ser humano tranquilo, mas sem Deus; um ser humano que não protesta, não exige justiça e se contenta apenas com a satisfação pessoal. Em contraste, a espiritualidade islâmica forma um ser humano desperto, crítico e empenhado; um ser humano que se opõe à opressão e busca a sua paz no caminho da verdade através da servidão (‘ubūdiyyah). Portanto, o caminho para escapar da armadilha das espiritualidades falsas é regressar ao Alcorão, aos Ahl al-Bayt (A.S.) e à racionalidade da fé. Devemos ensinar à geração atual que a verdadeira paz não se encontra em “energias ocultas” ou “foco mental”, mas sim na Lembrança de Deus e na ligação com a Verdade Absoluta. Se apresentarmos a religião com uma face viva, racional e esperançosa, nenhum mercado vistoso de espiritualidades falsas terá mais clientes.

Elnāz Mūsavī Yektā Investigadora de Média e Ciberespaço

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