7 dezembro 2025 - 09:21
A importância da “discrição” e da “gestão da informação” na palavra do Amir al-Mu’minin (a.s.)

O Imam Ali (a.s.) afirmou: “O peito do sábio é o cofre do seu segredo.” Esta máxima ressalta a importância da discrição e da administração correta das informações como sinais de razão e prudência. Guardar segredos é um dever ético e religioso, enfatizado também no Alcorão, e sua revelação causa dano tanto ao indivíduo quanto à sociedade. Assim, o ser racional não é apenas um bom guardião de confidências, mas evita igualmente a investigação indevida da vida alheia e demonstra discernimento ao escolher aqueles com quem consulta.

Abna Brasil: Nas sociedades humanas, a preservação da privacidade, a fidelidade às confianças e a adequada gestão da informação possuem importância fundamental. Esses princípios não apenas sustentam as relações pessoais e sociais, mas, em níveis mais amplos, garantem segurança e confiança públicas. O Amir al-Mu’minin Ali (a.s.), cuja sabedoria provém da fonte profética, declara de modo profundo: “Ṣadru al-‘āqili ṣandūqu sirrih.”[1] (O peito do sábio é o cofre de seu segredo.) Esta frase breve, porém rica, aponta para uma das características essenciais dos sábios: a competência de preservar e administrar segredos. Essa sabedoria está profundamente enraizada nos ensinamentos éticos e comportamentais do Alcorão.


1. A discrição como sinal de razão e prudência: a sabedoria alawita na gestão da informação

A palavra do Imam Ali (a.s.) ensina claramente que a capacidade de ocultar segredos é critério de prudência e racionalidade. A pessoa sensata é aquela que compreende o valor das informações e é capaz de controlá-las e organizá-las. O “cofre do segredo” é uma metáfora que compara o peito humano a um receptáculo seguro que não se abre facilmente nem expõe seu conteúdo. Essa habilidade protege o indivíduo de muitos perigos e lhe concede credibilidade. A discrição impede a criação de discórdia, resguarda a honra das pessoas e protege os interesses coletivos.

«E aqueles que não prestam falso testemunho e, quando passam pelo que é fútil, passam com dignidade.»[2]
Embora esta passagem não trate diretamente da discrição, ela condena a participação em palavras fúteis ou prejudiciais. A revelação de segredos, que frequentemente conduz a prejuízo e falsidade, está incluída nesse domínio do “lāghw” (futilidade), do qual o sábio se distancia.


2. A guarda de segredos como dever ético e religioso

Segredos confiados ao coração – sejam eles pessoais ou de outros – constituem um tipo de amānah (confiança). O Islã enfatiza a devolução das confianças e considera a traição um sinal de falta de fé. A revelação de segredos, seja por negligência ou intenção, é uma forma de traição que pode gerar danos amplos.

«Por certo, Allah vos ordena que entregueis os depósitos aos seus donos; e, quando julgardes entre as pessoas, que julgueis com justiça…»[3]

Esta ordem abrange todas as confianças, inclusive os segredos. Preservá-los é devolver essa confiança ao seu legítimo proprietário – e, no caso dos segredos pessoais, ao próprio indivíduo.


3. As consequências da revelação de segredos: do individual ao coletivo

A divulgação de segredos acarreta danos:

a) Ao próprio revelador:
Perda de credibilidade, fraqueza de caráter, desconfiança social.

b) Ao dono do segredo:
Exposição, prejuízo moral, conflitos, danos materiais ou mesmo físicos.

c) À sociedade:
Erosão da confiança pública, ruptura das relações sociais e criação de terreno para a discórdia.

«Aqueles que desejam que a obscenidade se difunda entre os fiéis terão um castigo doloroso…»[4]

Revelar os defeitos ocultos das pessoas favorece a disseminação de comportamentos repreensíveis. O Alcorão condena fortemente tal atitude.


4. Evitar o espionamento: complemento da discrição

Assim como guardar segredos é essencial, evitar a espionagem e a curiosidade indevida também é fundamental. O crente sensato não procura desvendar o que Allah manteve oculto nos outros.

«Ó vós que credes! Evitai muitas suposições… e não vos espioneis, e não fale um do outro na sua ausência…»[5]

O Alcorão proíbe explicitamente o espionamento. Tal prática abre caminho para descobrir e divulgar segredos, algo repelido pela ética islâmica.


5. A importância de consultar pessoas confiáveis: sabedoria na escolha do depositário de segredos

Embora a discrição seja um valor elevado, por vezes o ser humano precisa consultar alguém. Nesse caso, a escolha de um conselheiro confiável é essencial — alguém cujo “peito seja o cofre de seu segredo”.

«… e consulta-os nos assuntos. E quando decidires, confia em Allah…»[6]

A escolha de um consultor digno e discreto é parte da sabedoria no processo de deliberação.


Assim, a palavra do Amir al-Mu’minin (a.s.) é uma síntese dos ensinamentos éticos islâmicos acerca da gestão da informação e da preservação da privacidade. Ela ensina não apenas a guardar segredos, mas também a reconhecer essa virtude nos outros, escolhendo corretamente aqueles a quem confiamos nossas questões. Apoiado nos princípios corânicos da fidelidade às confianças, da não divulgação de falhas e da proibição da espionagem, é possível construir uma sociedade baseada na confiança, respeito e serenidade. A discrição é marca de racionalidade, maturidade ética e taqwā, trazendo felicidade individual e saúde social.


Notas

[1] Nahj al-Balāghah, Ḥikmah 6
[2] Alcorão, Surah Furqān, 25:72
[3] Alcorão, Surah Nisā’, 4:58
[4] Alcorão, Surah Nūr, 24:19
[5] Alcorão, Surah Ḥujurāt, 49:12
[6] Alcorão, Surah Āl ‘Imrān, 3:159

Tags

Your Comment

You are replying to: .
captcha