Abna Brasil: A mente humana é um campo de batalha silencioso. Nele, os pensamentos são como soldados errantes que desfilam sem cessar. A preocupação com um futuro incerto, o peso dos arrependimentos de um passado que não pode ser modificado, e a repetição interminável de diálogos, falhas e perdas. Esse ciclo contínuo não apenas rouba a serenidade do momento presente, mas drena suas forças e prepara o terreno para a ansiedade crônica e para a depressão.
A raiz da enfermidade
O primeiro passo é compreender com precisão a raiz do problema. É necessário perceber o que exatamente ocorre na mente. A ruminação tem dois rumos: ou você se prende ao passado — Por que disse aquilo?, Quem me dera não ter tomado aquela decisão! — ou fixa-se no futuro criando cenários angustiantes — E se isso acontecer?, E se eu fracassar?.
O pesar pelo passado
Grande parte da sobrecarga mental está ligada ao passado: erros, oportunidades perdidas, relações encerradas. Ao reproduzir incessantemente nossos fracassos, mantemos vivos os seus sofrimentos. O pesar pelo passado é uma espécie de autolesão que paralisa a força necessária para agir no presente. Quando metade da energia mental é consumida pelo arrependimento, enfrentamos a vida com apenas metade da nossa capacidade. A tristeza pelo passado rouba a alegria do futuro; e o passado é um morto que não deve ser desenterrado.
A prescrição: abandonar o mā fāt (aquilo que se perdeu)
O Emir dos Crentes (a.s.), em uma carta a Ibn ‘Abbās, afirma:
«أَمَّا بَعْدُ، فَإِنَّ الْمَرْءَ لَیَفْرَحُ بِالشَّیْءِ الَّذِی لَمْ یَکُنْ لِیَفُوتَهُ، وَیَحْزَنُ عَلَی الشَّیْءِ الَّذِی لَمْ یَکُنْ لِیُصِیبَهُ... وَلْیَکُنْ سُرُورُکَ بِمَا قَدَّمْتَ، وَأَسَفُکَ عَلَی مَا خَلَّفْتَ، وَهَمُّکَ فِیمَا بَعْدَ الْمَوْتِ.» [1]
Tradução:
“O ser humano se alegra por algo que nunca estava destinado a perder e se entristece por algo que jamais estava destinado a alcançar... Que sua alegria seja pelo que você enviou adiante, seu pesar pelo que deixou para trás, e sua preocupação pelo que o aguarda após a morte.”
O Imam (a.s.) revela inicialmente uma verdade psicológica: quase sempre nos angustiamos por coisas que não estavam, de fato, ao nosso alcance — ou que hoje já não estão. Se eu tivesse sido aprovado..., Se não tivesse perdido aquele emprego..., Se aquela pessoa não tivesse me deixado.... Esses “se” geralmente se referem a algo que já saiu completamente de nossas mãos. O Imam ensina que esse tipo de alegria e tristeza é um erro de avaliação emocional.
O critério correto é outro:
– Alegria por aquilo que se faz para a vida eterna.
– Pesar pelo que poderia ter sido feito em prol da verdade, e não foi.
– A principal preocupação: “o que vem após a morte”.
Em outro lugar, Ele (a.s.) afirma: «وَ لَا کُلُّ غَائِبٍ یَئُوب» [2]
— “Nem tudo o que se perde retorna.”
Este ensinamento aponta para o princípio de viver conforme a realidade: há coisas que se vão e não voltam. Não devemos construir expectativas irreais que nos aprisionem na fantasia e tornem a perda insuportável. E, se algo se perde, deve-se compreender que é o esforço humano que produz novos caminhos — não o apego ao passado. [3]
A preocupação com o futuro que ainda não chegou
Outra dimensão da ruminação é a ansiedade pelo futuro: E se me demitirem?, E se eu adoecer?. Esses “se” desgastam a mente. Se algo estiver destinado a acontecer, virá — você se angustie ou não. Contudo, se se angustiar, perderá a paz sem alterar o resultado. Não se deve carregar, sobre os ombros do presente, o peso dos medos de um amanhã que ainda não existe.
A prescrição: aproveitar a oportunidade, não viver aprisionado ao futuro
O Imam (a.s.), na Carta 31, aconselhando seu amado filho Imam Hassan (a.s.), declara:
«بَادِرِ الْفُرْصَةَ قَبْلَ أَنْ تَکُونَ غُصَّةً»
“Antecipe-se às oportunidades antes que se tornem motivo de aflição.” [4]
Em outro dito, Ele compara o tempo a uma nuvem: a nuvem não espera que você ajuste sua câmera — ela passa. “As oportunidades passam como as nuvens; aproveitai as boas oportunidades.”
Ele (a.s.) não diz: “Não pense no futuro.”
Diz: aproveite as oportunidades.
A diferença entre “planejar o futuro” e “preocupar-se com o futuro” é simples: o primeiro é ação; o segundo é paralisia.
Da próxima vez que sua mente começar a tecer cenários intermináveis, recorde-se das orientações do Emir dos Crentes (a.s.):
O passado se foi. O futuro ainda não chegou. Levante-se e aproveite a oportunidade viva do agora.
Notas
[1] Nahj al-Balagha, Carta 66.
[2] Nahj al-Balagha, Carta 31.
[3] Manshūr al-Tarbiya (Comentário da Carta 31 do Nahj al-Balagha), pp. 778–781.
[4] Nahj al-Balagha, Hikmah 21.
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