Segundo a Agência Internacional de Notícias AhlulBayt (a.s.) – ABNA –, o texto da Carta 24, que deve ser compreendido como um documento de waqf, foi transmitido antes de ash-Sharif ar-Radi na seção de testamentos do livro Furū‘ al-Kāfī e pode ser encontrado também em outras fontes, como Wasā’il ash-Shī‘a.
Num exame preliminar, esse documento de waqf constitui-se como um manual familiar para a preservação dos bens paternos. O Imam não atribui “cotas especiais” a nenhum de seus filhos; ao contrário, concede a alguns deles “responsabilidades maiores”. As razões para essa designação também são explicadas no texto, de modo que tudo permaneça claro e sem margem para dúvidas.
A data deste documento, conforme transmitida por ar-Radi, é 20 de Jumāda al-Ulā do ano 37 da Hégira, logo após o retorno da Batalha de Siffin. Considerando que os historiadores situam o início do califado externo do Imam Ali (a.s.) em 35 H., conclui-se que esses bens foram consagrados como waqf cerca de dois anos após o início de seu governo visível.
As orientações econômicas enfatizadas pelo Comandante dos Fiéis (a.s.) nesta carta são suficientemente amplas para delinear princípios fundamentais aplicáveis a toda forma de atividade financeira e comercial. Muitas delas encontram correspondência em regras de gestão econômica contemporâneas. Um dos pontos principais é a preservação do valor dos bens. O Imam afirma:
“E ele estipula para aquele a quem o bem for confiado que preserve o capital em suas bases originais e que dispense apenas de seus frutos e rendimentos nos destinos que lhe foram ordenados e indicados.”
O segundo ponto essencial do documento refere-se à diligência e perseverança no trabalho econômico, condição necessária para que os resultados finais sejam alcançados. O Imam proíbe a venda total do pomar ou a venda dos pés de palmeiras quando ainda são jovens:
“E que ele não venda nenhum dos rebentos das palmeiras destas terras...”
Em qualquer empreendimento econômico, é imprescindível ter paciência e resiliência durante o processo de maturação dos resultados. Pequenos prejuízos ou lucros inferiores ao esperado não devem conduzir à mudança precipitada de atividade ou estratégia. Os comerciantes antigos chamavam essa etapa de “comer o pó da loja”, enquanto a terminologia atual a identifica como o compromisso firme com o business plan.
A transformação estrutural no modelo de gestão, entretanto, torna-se adequada quando, após o amadurecimento do projeto e o alcance de um nível satisfatório de crescimento econômico, a mudança se mostra necessária. Da mesma forma, insistir em um modelo ultrapassado — o que hoje chamaríamos de change strategy tardio — pode ser prejudicial. Uma atividade comercial que foi lucrativa em determinado período pode, décadas mais tarde, perder completamente sua viabilidade econômica e social.
O Imam Ali (a.s.) determina, na carta, que a venda dos rebentos ou mesmo do pomar só seja permitida quando toda a área atingir sua plena maturidade produtiva:
“E que ele não venda nenhum dos rebentos das palmeiras destas aldeias até que toda a terra esteja completamente preenchida com sua plantação.”
É natural que, nesse estágio, a terra tenha atingido seu ápice de fertilidade e que as palmeiras estejam produzindo em seu nível máximo; portanto, o valor da propriedade será muito maior e sua venda mais vantajosa. O mesmo princípio se aplica a qualquer atividade econômica: a venda de uma empresa ou organização deve ocorrer quando ela estiver no auge de sua produtividade.
Seyyed Ali-Asghar Hosseini / ABNA
Your Comment