ABNA Brasil — Em um canto do mundo onde o céu mistura a chuva da misericórdia com a chuva de fogo, pessoas em tendas úmidas do deslocamento forçado ensinam à humanidade uma lição inesquecível de vida e esperança. Gaza hoje não é apenas o cenário de uma tragédia humana, mas o palco de uma magnífica demonstração de “perseverança”, a mesma perseverança que o Alcorão Sagrado considera condição para a salvação e a tranquilidade:
«إِنَّ الَّذِینَ قَالُوا رَبُّنَا اللَّهُ ثُمَّ اسْتَقَامُوا فَلَا خَوْفٌ عَلَیْهِمْ وَلَا هُمْ یَحْزَنُونَ».
No coração das noites mais sombrias, quando a rajada das bombas se mistura à rajada da chuva e as enxurradas de água lembram enxurradas de fogo, o povo de Gaza, nas tendas do exílio, com postura firme, materializa em sua vida o versículo divino:
«إِنَّ الَّذِینَ قَالُوا رَبُّنَا اللَّهُ ثُمَّ اسْتَقَامُوا فَلَا خَوْفٌ عَلَیْهِمْ وَلَا هُمْ یَحْزَنُونَ» (1).
O que é a perseverança deles? Sua perseverança não está em muros de pedra, mas em seus corações dilacerados. Ela se manifesta quando se colocam diante do Senhor e dizem: «رَبُّنَا اللَّهُ», e então permanecem firmes nessa fé, mesmo quando o vento arranca suas tendas e a chuva lava seus poucos pertences. A perseverança, no Alcorão, não é apenas uma postura passiva, mas um movimento dinâmico, consciente e contínuo no caminho da verdade. Esse conceito ganha profundidade quando vem após a confissão da soberania de Deus — «رَبُّنَا اللَّهُ». O povo de Gaza, apesar de ter perdido suas casas, seus entes queridos e os mais básicos recursos da vida, jamais vacilou nessa confissão e nesse pacto.
Sua perseverança é resistir ao desespero, preservar a dignidade humana e manter a adoração nas condições mais duras. Rezar em meio às ruínas, dividir o último pedaço de pão e preservar os ensinamentos éticos à beira da fome são manifestações concretas de «اسْتَقَامُوا». A filosofia da tranquilidade na adversidade: o nobre versículo promete que, para os que têm fé e perseverança, não há medo nem tristeza.
Mas como não ter medo ou tristeza sob bombardeios e enchentes? A resposta está no tipo de visão. O verdadeiro medo é o medo do afastamento de Deus, não o medo da morte. A verdadeira tristeza é a tristeza de perder a satisfação do Senhor, não a tristeza de perder bens materiais. Aqueles que permanecem firmes na lembrança de Deus nas tendas de Gaza temem perder esse vínculo, não perder a tenda. É aí que uma tranquilidade além da compreensão material se instala em seus corações, uma tranquilidade que lhes oferece um horizonte claro das promessas divinas.
O que acontece nas tendas úmidas? Em tendas onde o frio do inverno penetra até os ossos, uma mãe aperta o filho nos braços e, com voz trêmula, recita o Alcorão. Um pai que perdeu tudo realiza sua oração sobre um tapete gasto, e seu local de oração está molhado de lágrimas e de chuva. Uma criança divide um pedaço de pão seco com as irmãs, e em seus olhos brilha uma alegria divina.
Por que não têm medo nem tristeza? Porque acreditam que seu temor é apenas d’Ele e sua tristeza é apenas pela separação d’Ele. Eles compreenderam que a promessa de Deus é verdadeira: «فَلَا خَوْفٌ عَلَیْهِمْ وَلَا هُمْ یَحْزَنُونَ». O medo não é da pobreza, das bombas ou do frio; o medo é do afastamento da misericórdia do Senhor. E sua tristeza não é pela perda do lar; é o pesar por talvez terem sido negligentes, ainda que por um instante, na adoração.
A perseverança é a mais bela forma de adoração nessa imensa provação. Cada gole de água que bebem, cada pedaço de pão que comem, cada respiração que retêm em peitos cheios de dor e esperança — tudo isso é adoração. Sua perseverança é uma oração ininterrupta que clama: «رَبُّنَا اللَّهُ». E assim, sob o céu escuro de Gaza, estrelas brilham sobre a terra. Estrelas cujo nome é “retidão”.
Eles vivem com a certeza da promessa do Senhor, apoiados em Sua misericórdia infinita e com uma fé que faz as montanhas tremerem. A chuva cai, a enchente vem, as tendas tremem, mas os corações dos fiéis permanecem firmes como montanhas. Porque sabem que, após cada chuva intensa, a terra se torna mais verde, e após cada escuridão, uma aurora radiante surgirá.
Ó povo de Gaza! Ó exemplos de perseverança! A oração dos oprimidos do mundo os acompanha, e a promessa de Deus lhes garantirá a vitória final. Vocês nos ensinaram que a perseverança é o mais belo nome da confiança em Deus. «رَبُّنَا اللَّهُ»… depois perseveramos. E esta é a chave da libertação.
O povo de Gaza hoje é a encarnação viva e dinâmica do versículo da perseverança. Eles provaram que a promessa de Deus é verdadeira. Com a confissão de Sua soberania e a perseverança nesse caminho, é possível atravessar as montanhas do medo e o oceano infinito da tristeza. A história de Gaza não é apenas uma tragédia política; é uma epopeia humana e de fé. Uma epopeia que recorda a todo ser humano que dizer «رَبُّنَا اللَّهُ» e permanecer firme nisso é a chave para abrir qualquer impasse e suportar qualquer provação. No coração da tempestade de Gaza, o broto da esperança e da resistência está verde — e esse broto é irrigado com a água da perseverança.
Zahra Salehi Far,
Mestre em Alcorão e Hadith,
estudante de Gestão de Mídia da Universidade Baqer al-Ulum
Nota de rodapé
- Surata Al-Ahqaf, versículo 13
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