20 dezembro 2025 - 10:04
Operação psicológica em Karbala; análise midiática das mensagens do Imam Hussein (a.s.) antes e depois de Ashura

A revolta do Imam Hussein (a.s.) não foi apenas um confronto militar; foi uma guerra midiática e psicológica em grande escala, direcionada aos corações e às mentes. Das exortações em Meca às mensagens sangrentas de Karbala, como Hussein (a.s.) mobilizou a opinião pública contra o governo de Yazid? A análise da estratégia comunicacional do Imam (a.s.) em um dos momentos mais sensíveis da história xiita revela um modelo ímpar de atuação midiática baseada na verdade.

ABNA Brasil: Hojjatoleslam wal-Muslimin Mohammad Hossein Amin, escritor e pesquisador religioso, em um texto exclusivo para a ABNA, analisa a “operação psicológica e a análise midiática das mensagens do Imam Hussein (a.s.) antes e depois do evento de Karbala”.

Na análise de qualquer grande acontecimento histórico, independentemente de suas dimensões militares e políticas, é necessário dar atenção especial aos seus aspectos suaves e influentes, ou seja, à dimensão midiática e psicológica. O evento de Ashura, como um ponto de inflexão na história do xiismo, está repleto de mensagens, símbolos e táticas comunicacionais inteligentes empregadas pelo Imam Hussein (a.s.) e por seus companheiros. Esse movimento foi muito além de um confronto armado, constituindo uma ampla e calculada “operação psicológica” para despertar a comunidade islâmica e desmascarar a face corrupta do governo omíada. Nessa perspectiva, o Imam (a.s.) é um comandante excepcional que, utilizando os instrumentos comunicacionais de sua época, liderou a maior campanha de conscientização da história, cuja mensagem mantém sua força até hoje.

Estratégia comunicacional antes da partida: direcionamento da opinião pública

Desde os primeiros momentos da decisão de se levantar, o Imam Hussein (a.s.) iniciou um programa comunicacional estruturado com diferentes segmentos da sociedade. Ele sabia muito bem que a vitória no campo de batalha dependia da conquista do apoio da opinião pública. Os sermões esclarecedores em Meca, especialmente em Mina, foram uma das ações mais centrais. O Imam (a), diante de uma grande multidão de peregrinos, apoiando-se nos versículos do Alcorão e na tradição do Profeta (s), questionou a legitimidade do governo de Yazid e explicou os objetivos de sua revolta. (1) Esse sermão foi, na verdade, um amplo e oficial comunicado público dirigido ao mundo islâmico.

As numerosas cartas do Imam aos chefes tribais e às personalidades influentes de cidades como Kufa e Basra constituíram outra parte dessa estratégia. Nessas cartas, o Imam (a.s.) não se limitou a convidar ao apoio, mas, com uma análise precisa da situação política, advertiu sobre a decadência moral do governo e conclamou o povo a retornar aos valores autênticos do Islã. (2) Mesmo durante o trajeto de Medina a Karbala, em diferentes paradas, ele dialogava com várias pessoas e explicava as razões de seu movimento. Esse comportamento demonstra uma comunicação contínua e abrangente com públicos diversos.

Uma das mais brilhantes táticas comunicacionais do Imam (a.s.) foi a escolha da rota. Optar por um caminho indireto de Meca a Kufa, passando por regiões populosas e por diferentes tribos, foi em si uma grande ação midiática. Isso criou a oportunidade de difundir a mensagem da revolta no mais amplo nível possível e permitiu que mais pessoas conhecessem de perto as posições e a ética do Imam (a). A presença de uma caravana composta pelos Ahl al-Bayt do Profeta (s), incluindo mulheres e crianças, foi uma mensagem viva e eloquente da opressão sofrida e da legitimidade desse movimento.

A representação simbólica da legitimidade no dia de Ashura: produção de conteúdo duradouro

O dia de Ashura foi o ápice dessa operação psicológica. O Imam Hussein (a.s.) e seus companheiros, no campo de batalha, produziram um “conteúdo” que ficou eternamente registrado na memória da história. Cada mártir, por meio de sua resistência e de suas breves e impactantes palavras, expressou parte da mensagem da revolta. O histórico discurso do Imam (a.s.) na manhã de Ashura, dirigido ao exército inimigo, foi um exemplo completo de persuasão racional e emocional: ele primeiro se apresentou e lembrou sua linhagem, para que soubessem contra quem estavam lutando, e depois pediu que, caso não o conhecessem, perguntassem aos sábios presentes nas cidades sobre ele. (3) Essas palavras foram um golpe psicológico no corpo do exército adversário.

A forma do martírio de cada companheiro teve um simbolismo próprio. O martírio de Hurr ibn Yazid al-Riyahi simbolizou o retorno à verdade; o martírio do Imam Abbas (a), o sacrifício e a lealdade; e o martírio de Ali Akbar (a), a continuidade do caminho do Profeta (s). Esses símbolos foram rapidamente interpretados e difundidos entre os sobreviventes e os narradores do acontecimento. Até mesmo o silêncio significativo de Sayyida Zaynab (s) ao longo do dia de Ashura e seus clamores após o martírio do irmão constituíram uma poderosa mensagem midiática da profundidade da tragédia. As cenas de sede, da solidão do Imam (a.s.) e do martírio do bebê de colo foram “clipes” impactantes que fizeram estremecer o coração de todo ouvinte.

Nos últimos momentos, o Imam Hussein (a), com palavras eloquentes, reafirmou o objetivo da revolta: «هَیهَاتَ مِنَّا الذِّلَّةُ» (“Longe de nós a humilhação!”), enfatizando que se levantara apenas para reviver o ordenamento do bem e a proibição do mal. Seu martírio, com o rosto sobre a terra, foi o símbolo do ápice da humildade junto à honra. Essa cena final completou a mensagem transmitida desde o início: esta era uma revolta para preservar a humanidade, não para conquistar o poder.

O eco e a conclusão da mensagem após o martírio: o papel das mídias humanas

Se o dia de Ashura foi o dia da produção de conteúdo, os dias seguintes foram o momento de sua ampla difusão pelos meios de comunicação vivos e incomparáveis daquela época: os prisioneiros dos Ahl al-Bayt (a), especialmente Sayyida Zaynab (s) e o Imam Sajjad (a). Com sua presença em Kufa e Damasco, diante das principais figuras do crime, eles realizaram denúncias contundentes. O inflamado sermão de Sayyida Zaynab (s) em Kufa e também na corte de Yazid, acompanhado de sólidos argumentos corânicos, foi a continuação da mesma guerra midiática iniciada pelo Imam Hussein (a). (4) Com coragem, ela questionou a falsa vitória do inimigo e revelou a verdade.

O Imam Sajjad (a), aproveitando sua condição de prisioneiro, por meio de discursos breves e eficazes diante do povo e em resposta a Yazid, explicou e interpretou a mensagem de seu pai. Seus debates com os eruditos da corte em Damasco demonstraram que a verdade não pode ser aprisionada e que a palavra é uma arma afiada. (5) A conduta digna e as palavras sábias desses prisioneiros exerceram tal impacto sobre a opinião pública que o próprio Yazid foi forçado a se eximir e a condenar as ações de seus agentes. Ao transmitirem diretamente os acontecimentos e relatarem seus detalhes, eles não permitiram que a narrativa governamental dominasse a sociedade.

A caravana dos cativos, no caminho de retorno a Medina, continuou a transmitir a mensagem. As cerimônias de luto e o relato da tragédia nas diversas paradas fizeram com que a verdadeira notícia do acontecimento se espalhasse por todas as regiões. Essa ação preparou o terreno para várias revoltas, como a dos Tawwabin e, depois, a de Mukhtar. Assim, a operação psicológica iniciada pelo Imam Hussein (a.s.) alcançou plenamente seu resultado com o esforço de seus companheiros e sobreviventes, dando origem a um grande movimento na história. Ainda hoje, tudo o que dizemos sobre Ashura e cada cerimônia que realizamos são, na verdade, a continuidade dessa estratégia comunicacional inteligente para manter viva a mensagem de liberdade e martírio.


Notas de rodapé:

  1. Shaykh Mufid, Al-Irshad fi Ma‘rifat Hujaj Allah ‘ala al-‘Ibad, vol. 2, pp. 78–80.
  2. Ibid., vol. 2, pp. 35–40.
  3. Abu Mikhnaf, Waq‘at al-Taff, p. 229.
  4. Ibn Tawus, Al-Luhuf ‘ala Qatla al-Tufuf, p. 134.
  5. Shaykh Saduq, Al-Amali, sessão 31, hadith 1.

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