Limitações da Vida: A Lição Eterna do Imam Ali (A.S.) para a Paz de Nossos Dias
A sabedoria do Amir al-Mu’minin ʿAli (a.s.), segundo a qual “a melhor educação é que o ser humano permaneça dentro de seus limites e não ultrapasse a própria medida”, é um convite à autocompreensão profunda e à humildade. Esse princípio traz serenidade à vida individual, afastando a soberba, e, no âmbito social, ao respeitar direitos, gera paz e ordem; trata-se de um fundamento perene que continua esclarecedor mesmo nas complexidades do mundo contemporâneo.
ABNA Brasil: No fecundo tesouro das sabedorias do Imam ʿAli (a.s.), destaca-se uma narração que se tornou o eixo da etiqueta e da formação humana. Ele afirmou:
«أفضَلُ الأَدَبِ أنْ یَقِفَ الإنسانُ عِندَ حَدِّهِ ولا یَتَعدّی قَدرَهُ» [1]
(A melhor educação é que o ser humano permaneça em seu limite e não ultrapasse a própria medida).
Essa palavra preciosa não é apenas uma recomendação ética, mas uma carta magna abrangente para a felicidade individual e social, que abarca dimensões profundas de autoconhecimento, humildade e prevenção da arrogância.
Elucidação do nobre hadith
1. O conceito de “afḍal al-adab”: um caminho rumo à perfeição humana
O termo adab na cultura islâmica possui um campo semântico amplo, que vai além das simples normas externas de convivência. Aqui, adab significa educação da alma, autoaperfeiçoamento, purificação do caráter e observância de todos os aspectos da perfeição humana. Quando o Imam (a.s.) afirma que este é o melhor adab, refere-se à forma mais completa e abrangente de formação e virtude moral alcançada pela observância desse princípio fundamental. Tal adab engloba conhecimento, ação reta e ética elevada.
2. “Yaqifa al-insān ʿinda ḥaddihi”: reconhecer os limites e o próprio lugar
Esta parte do hadith convida a uma autocompreensão profunda e realista. Ḥadd significa limite, fronteira e contorno; aqui, refere-se aos limites existenciais, às capacidades, às fragilidades, à posição social, bem como aos deveres e responsabilidades de cada indivíduo.
- Autoconhecimento e realismo: o ser humano deve reconhecer seus talentos e potencialidades, bem como suas limitações e pontos fracos. Entrar em campos que excedem sua capacidade não conduz ao êxito; ao contrário, gera frustração e prejuízos a si e aos outros. O reconhecimento verdadeiro do próprio ḥadd afasta pretensões vãs e expectativas irreais.
- Reconhecimento do lugar social e respeito aos direitos alheios: cada pessoa ocupa um papel e uma função na sociedade. Respeitar esse lugar significa evitar interferências indevidas nos assuntos dos outros, respeitar hierarquias e compreender direitos e deveres recíprocos, o que favorece a coesão e a tranquilidade social.
- Cumprimento de deveres e responsabilidades: permanecer dentro do próprio ḥadd implica cumprir deveres pessoais, familiares e sociais, evitando esquivar-se deles.
3. “Wa-lā yataʿaddā qadrahu”: evitar ultrapassar a própria medida
Esta parte complementa a anterior com um aspecto preventivo. Qadr significa medida, posição e dignidade. Ultrapassar o qadr é transgredir a própria condição e estatuto, o que assume múltiplas formas e, em geral, tem raiz na arrogância e na autossuficiência. É aqui que os ensinamentos do Alcorão elucidam e condenam esse comportamento:
- Condenação da arrogância no Alcorão:
«وَلَا تُصَعِّرْ خَدَّکَ لِلنَّاسِ وَلَا تَمْشِ فِی الْأَرْضِ مَرَحًا إِنَّ اللَّهَ لَا یُحِبُّ کُلَّ مُخْتَالٍ فَخُورٍ» [2]
(Não desvies o rosto das pessoas com soberba e não caminhes pela terra com arrogância; certamente Deus não ama todo presunçoso vanglorioso).
O versículo proíbe explicitamente a altivez e a ostentação, enfatizando a necessidade de não ultrapassar o qadr nem abandonar o ḥadd da humildade.
«وَلَا تَمْشِ فِی الْأَرْضِ مَرَحًا إِنَّکَ لَنْ تَخْرِقَ الْأَرْضَ وَلَنْ تَبْلُغَ الْجِبَالَ طُولًا» [3]
(Não caminhes pela terra com arrogância, pois jamais rasgarás a terra nem alcançarás a altura das montanhas).
Este versículo recorda ao ser humano que, por mais que se considere grandioso, permanece diminuto diante da majestade da criação e do poder divino. Este é o ḥadd e o qadr humanos que não devem ser transgredidos; toda soberba é mera ilusão.
- Pretensões infundadas e ambição reprovável: alegar conhecimentos, capacidades ou méritos inexistentes, ou buscar posições para as quais não se tem merecimento, são exemplos claros de transgressão do qadr. Tais atitudes conduzem à desonra e afastam o indivíduo da aquisição real das virtudes e da perfeição autêntica.
- Interferência indevida na vida alheia: a transgressão de limites também se manifesta na intromissão injustificada nos assuntos pessoais ou profissionais de outros, resultando em perda de tranquilidade e surgimento de conflitos.
4. Efeitos e resultados da observância deste princípio: um caminho para a serenidade e a salvação
A prática desta recomendação sábia do Amir al-Mu’minin ʿAli (a.s.) produz numerosos frutos:
- Paz interior e contentamento: ao conhecer seus limites e não ultrapassá-los, o ser humano se liberta de conflitos mentais oriundos da soberba, da inveja e de competições nocivas, alcançando serenidade e satisfação consigo mesmo.
- Respeito social e aceitação: quem observa o próprio ḥadd e qadr é respeitado pelos outros; por meio da humildade e da sabedoria, consolida sua posição real nos corações.
- Crescimento e elevação autênticos: o autoconhecimento e o respeito aos limites permitem focar nos pontos fortes e corrigir fragilidades, conduzindo ao verdadeiro aperfeiçoamento.
- Paz e coesão social: uma sociedade em que os indivíduos respeitam seus limites afasta-se de conflitos desnecessários e caminha para a solidariedade e a cooperação.
- Fortalecimento da humildade (atributo dos ʿibād al-Raḥmān): este hadith fundamenta a virtude da humildade. Ao compreender sua posição diante da grandeza divina e das demais criaturas, o ser humano torna-se modesto e afasta-se da arrogância. O Alcorão descreve os servos especiais do Misericordioso:
«وَعِبَادُ الرَّحْمَٰنِ الَّذِینَ یَمْشُونَ عَلَی الْأَرْضِ هَوْنًا وَإِذَا خَاطَبَهُمُ الْجَاهِلُونَ قَالُوا سَلَامًا» [4]
(E os servos do Misericordioso são aqueles que caminham pela terra com humildade; e quando os ignorantes lhes dirigem a palavra, respondem: paz).
Caminhar com hawn (humildade e serenidade) é o oposto de marah (arrogância) e constitui um sinal evidente do reconhecimento e do respeito ao próprio ḥadd e qadr, levando a uma conduta sábia diante da ignorância.
Este nobre hadith é uma lâmpada orientadora para todo ser humano em busca da perfeição. Ele constitui o eixo da formação islâmica e a fonte de numerosas virtudes morais. Mediante autoconhecimento preciso, humildade genuína e observância sincera dos limites existenciais, o ser humano alcança a melhor forma de educação e trilha o caminho da verdadeira felicidade — uma felicidade que se manifesta tanto na paz interior quanto nas relações sociais construtivas, protegendo-o dos perigos fatais da arrogância e da autossuficiência. Essa mensagem eterna, como uma joia resplandecente do oceano da sabedoria alawita, permanecerá para sempre como guia da humanidade e, com a confirmação e elucidação dos versículos do Alcorão, revela ainda mais sua profundidade e importância.
Notas
[1] Ghurar al-Ḥikam wa Durar al-Kalim, hadith 3241.
[2] Alcorão, Surata Luqmān, 31:19.
[3] Alcorão, Surata al-Isrāʾ, 17:37.
[4] Alcorão, Surata al-Furqān, 25:63.
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