23 agosto 2025 - 12:19
Uma Partida Dolorosa que Amadureceu a Comunidade

A partida do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) não foi apenas um evento histórico, mas um ponto de virada que introduziu a comunidade islâmica em uma nova fase. A partir de então, a nação teve que aprender o caminho da orientação, da tomada de decisões e de como enfrentar crises sem a presença direta do Profeta. Essa experiência levou a comunidade à maturidade intelectual, à independência na decisão e a um teste de fé.

De acordo com a Agência Internacional de Notícias AhlulBayt (a.s.) - Abna: Hujjat al-Islam wa al-Muslimin Mohammad Hossein Amin, escritor e pesquisador religioso, em um artigo exclusivo para a Abna, examina a questão de como a ausência do Profeta (S.A.A.S.) colocou a nação islâmica diante da necessidade de maturidade social e de tomada de decisões independente, e quais foram as consequências psicológicas e históricas dessa transformação.

Uma Partida Dolorosa que Amadureceu a Comunidade

Nenhum evento foi mais chocante para os muçulmanos do que a partida do Mensageiro do Islã (S.A.A.S.). A comunidade, que viveu por anos sob a orientação direta de Sua Santidade, de repente se viu diante de um teste difícil: escolher o caminho, preservar a coesão e determinar seu futuro. Da perspectiva da psicologia social, tal situação é semelhante à perda de um pai influente; o filho deve aprender a ficar de pé sozinho na ausência dele. A nação islâmica também enfrentou esse desafio. Neste artigo, examinamos as dimensões psicológicas e religiosas dessa fase sensível da história do Islã.


A Partida do Profeta: O Colapso do Pilar de Apoio da Comunidade

A partida do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) causou um choque emocional e psicológico na comunidade islâmica. Muitos muçulmanos não conseguiam acreditar que o Mensageiro de Deus havia falecido. Umar ibn al-Khattab, com intensidade e emoção, chegou a declarar: "Quem disser que o Profeta está morto, eu o atingirei com minha espada" [1]. Essa reação psicológica é um exemplo claro da negação, a primeira fase do luto.

Mas, no cerne dessa negação, a comunidade precisava de alguém que dissesse a verdade e mostrasse o caminho para a maturidade. Esse papel foi desempenhado pelo Comandante dos Crentes, Ali (a.s.), e em outro momento, por Abu Bakr, ao recitar o versículo: "E Muhammad não é senão um Mensageiro. Outros mensageiros já se foram antes dele." [2]. A comunidade islâmica foi forçada a aceitar a verdade da ausência e, a partir de então, a tomar decisões sem a presença do Profeta.

Da perspectiva xiita, neste momento sensível, a principal responsabilidade da comunidade era seguir a designação e a nomeação divina do Profeta, ou seja, a liderança do Comandante dos Crentes (a.s.). Essa obediência não tinha apenas um aspecto político, mas representava uma questão teológica e espiritual profunda que foi explorada a partir das crenças xiitas autênticas, pois a liderança era considerada a continuação da missão profética.

No entanto, da perspectiva psicológica, a comunidade entrou em uma nova fase: a transição da dependência de um líder direto para o teste de responsabilidade e independência. Essa transição forçou a comunidade a encontrar um equilíbrio entre a obediência a um critério divino fixo, único e presente, e a tentativa de entender os critérios intelectuais e revelados desse critério divino após sua ausência; um equilíbrio que determinou o destino futuro da nação.


Maturidade Social ou Crise de Desvio?

A partida do Profeta (S.A.A.S.) foi o cenário para a maturidade social da nação, mas uma maturidade que foi simultaneamente acompanhada pelo risco de desvio. A comunidade que deveria aprender a tomar decisões, desta vez, ficou presa entre o dilema de obedecer à designação do Profeta em Ghadir Khumm [3] e o movimento em direção a mecanismos políticos tribais. Este conflito é semelhante à crise da adolescência, na qual o adolescente hesita entre a ordem de seus pais e o desejo de independência.

Da perspectiva religiosa, a verdadeira maturidade só era possível através do apego à liderança do AhlulBayt (a.s.). O Imam Ali (a.s.) lembrou repetidamente que a comunidade estava sendo testada: "As pessoas estarão bem enquanto discordarem sobre o bem; mas quando discordarem sobre o mal, elas perecerão." [4]. Em outras palavras, a discordância sobre o certo e o errado pode levar a comunidade ao crescimento ou à queda.

Portanto, a maturidade social após o Profeta, em vez de ocorrer no caminho da orientação do AhlulBayt (a.s.), foi acompanhada por uma crise de desvio em grande parte da comunidade. Essa experiência mostrou que a maturidade sem um critério divino leva a uma crise.


A Responsabilidade da Nação: Um Teste Difícil

Com a partida do Profeta, os muçulmanos não podiam mais perguntar diretamente a Sua Santidade sobre cada questão. A responsabilidade de entender o Alcorão, aplicar as leis e manter a coesão social recaiu sobre eles. Neste ponto, a comunidade teve que passar da fase de "obediência direta" para a fase de "obediência mediada". Ou seja, a obediência a um sucessor que continuasse o caminho da revelação e guiasse a nação com base nos princípios religiosos e revelados.

Da perspectiva do Alcorão, o princípio da responsabilidade coletiva é fundamental: "E apegai-vos todos juntos ao laço de Deus e não vos separeis." [5]. Mas este versículo só tem sentido à luz do apego ao AhlulBayt. O Profeta disse: "Deixo entre vós duas coisas de peso: o Livro de Deus e minha linhagem." [6]. Portanto, a responsabilidade da nação não era apenas o julgamento individual, mas a adesão a uma liderança divina.

Da perspectiva da psicologia social, uma comunidade que de repente aceita uma grande responsabilidade, se não tiver uma liderança influente e legítima, enfrentará fragmentação e crise. Foi exatamente isso que aconteceu após Saqifah: uma parte da comunidade permaneceu fiel ao juramento a Ali (a.s.), enquanto a outra seguiu o caminho do tribalismo.


O Impacto da Ausência do Profeta na Coesão Emocional da Comunidade

Da perspectiva da psicologia, o Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) não era apenas um líder político e religioso, mas o eixo emocional e de identidade da comunidade. Sua ausência criou um vazio psicológico no coração dos muçulmanos que era difícil de preencher. Em tal situação, a nação precisava de um novo modelo emocional para preservar sua coesão interna. O AhlulBayt (a.s.) era esse modelo emocional e espiritual; pessoas que não apenas tinham parentesco com o Profeta, mas também haviam internalizado completamente todos os seus valores e ensinamentos.

No entanto, uma parte da comunidade, em vez de se apegar a este centro emocional e teológico, inclinou-se para estruturas tribais. Esta abordagem, em vez de levar a uma maior coesão, causou uma divisão emocional na comunidade. Da perspectiva histórica, essa divisão emocional gradualmente levou a conflitos políticos e, em seguida, a guerras civis. Essa divisão foi, na verdade, uma ruptura entre a ligação do coração com o AhlulBayt e a tendência para as ambições de poder hereditárias e tribais. Tal desvio fez com que muitos dos valores comuns da comunidade se enfraquecessem e diferentes partes da nação se voltassem umas contra as outras. Como resultado, um profundo golpe foi desferido na unidade dos muçulmanos, cujos efeitos perduraram por muitos anos.


A Liderança (Wilayah): O Critério para a Verdadeira Maturidade

Na cultura xiita, a verdadeira maturidade da comunidade só é alcançada sob a sombra da liderança (Wilayah). A liderança significa aceitar uma ligação espiritual e política com o Imam Infallível. O Profeta (S.A.A.S.) disse no dia de Ghadir Khumm: "A quem eu sou o mestre, Ali é seu mestre." [7]. Esta declaração deixava claro que, na ausência do Profeta, a nação precisava de um Guardião Divino para percorrer o caminho do verdadeiro crescimento e independência.

Desta perspectiva, a maturidade da nação sem a liderança (Wilayah) é semelhante à maturidade aparente sem racionalidade; um movimento incompleto que leva à crise. O Imam Ali (a.s.) também enfatizou este ponto em seus sermões no Nahj al-Balagha, de que se a comunidade abandonasse o critério da liderança (Wilayah), ela se desviaria em vez de amadurecer.

Conclusão: A Ausência do Profeta e o Nascimento do Teste da Maturidade

A partida do Mensageiro do Islã (S.A.A.S.) não foi apenas um evento histórico, mas uma grande experiência psicológica para a nação. A comunidade teve que aprender a continuar seu caminho sem a presença direta de seu líder divino. Mas a experiência mostrou que a maturidade só tem sentido quando está no caminho da liderança (Wilayah). Caso contrário, a comunidade, em vez de crescer, se desvia.

Desta perspectiva, a partida do Profeta pode ser vista como o ponto de partida para a responsabilidade da nação; um momento em que a nação tinha que provar que era capaz de seguir no caminho da verdade. Mas a história mostrou que este teste foi difícil para muitos. Compreender essa experiência hoje é instrutivo para nós: uma comunidade só amadurece quando, além da independência, consegue manter sua ligação com a liderança divina viva, forte e firme.


Referências e Notas de Rodapé:

  1. Tabari, Tarikh al-Tabari, vol. 3, p. 202.
  2. Alcorão Sagrado, Al Imran: 144.
  3. Tabarsi, Al-Ihtijaj, vol. 1, p. 56; O evento de Ghadir Khumm.
  4. Nahj al-Balagha, Sermão 176.
  5. Alcorão Sagrado, Al Imran: 103.
  6. Sahih Muslim, vol. 7, p. 122; Também: Bihar al-Anwar, vol. 23, p. 105.
  7. Ahmad ibn Hanbal, Musnad, vol. 4, p. 281; Allamah Amini, Al-Ghadir, vol. 1, p. 14.

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